Tema do Intercom 2018 tem repercussão na produção intelectual em Comunicação

24 de setembro 2018

Passada a 41ª edição do Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom 2018), realizada de 2 a 8 de setembro na Universidade da Região de Joinville (Univille), em Joinville (SC), o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), professor Giovandro Marcus Ferreira, concedeu entrevista ao Jornal Intercom para fazer um balanço do evento.

Destacando a organização local do Intercom 2018, o professor Giovandro Ferreira também avalia positivamente o conteúdo do congresso. “Trazer, para um evento da dimensão do congresso nacional da Intercom, a discussão de ‘Desigualdades, Gêneros e Comunicação’ reforça uma preocupação da Intercom de sempre pensar a comunicação por um viés crítico, problematizando a realidade e colocando em evidência as contradições dessa realidade. Isso tem uma repercussão sobre a história da produção intelectual do campo”, afirma. Além disso, comenta a escolha de Belém (PA) como anfitriã do Intercom 2019.

Confira a entrevista:

JORNAL INTERCOM – Como o senhor avalia o 41º Congresso Brasileiro de Ciências de Comunicação?
GIOVANDRO FERREIRA – O congresso Intercom 2018 foi extremamente positivo. Destaco dois aspectos: na organização, tivemos uma equipe muito competente, que planejou muito bem e executou esse planejamento ao longo do ano. A equipe de Joinville (SC), que teve à frente o professor Silvio Simon, da Universidade da Região de Joinville (Univille), teve importância fundamental na realização do congresso. Outro aspecto positivo foi a temática, construída desde a gestão passada e muito preocupada com as questões sociais, não só do nosso país e do nosso continente, como do mundo. Trazer, para um evento da dimensão do congresso nacional da Intercom, a discussão de "Desigualdades, Gêneros e Comunicação" reforça uma preocupação da Intercom de sempre pensar a comunicação por um viés crítico, problematizando a realidade e colocando em evidência as contradições dessa realidade. Isso tem uma repercussão sobre a história da produção intelectual do campo.

JORNAL INTERCOM – O Intercom 2018 representou o cenário atual da pesquisa em Comunicação no Brasil?
GIOVANDRO FERREIRA – Acho que sim. Uma preocupação muito grande da Intercom é ter essa rede nacional, e um reflexo disso é que estamos saindo do Sul e indo para o Norte, onde será o congresso nacional em 2019 – e tudo isso em tempos difíceis. Ter um encontro no Sul e outro no Norte, em um momento de crise, é fazer a aposta de que a entidade, apesar das circunstâncias, deve ser de representação nacional, de fato e de direito. Numa outra perspectiva, não só geográfica, temos vários eventos no interior do congresso nos quais também é possível destacar essa representatividade nacional em termos teóricos. Por exemplo, temos hoje 34 Grupos de Pesquisa, que abrem seleção de trabalhos e promovem discussões com diversas temáticas do campo da Comunicação. E não fica só aí: o congresso da Intercom tem uma reverberação internacional. Esta edição teve várias atividades pré-congresso com representação nacional e internacional, por exemplo, o III Colóquio Latino-Americano de Ciências da Comunicação, que segue a tendência da Intercom de buscar uma integração maior da América Latina, e o VIII Colóquio Brasil-Estados Unidos de Estudos da Comunicação. Tivemos também o II Fórum de Rádios e TVs Universitárias, com colegas de outros países. Enfim, há uma preocupação de diversidade teórica, com representação de diversos segmentos da área, e também internacional, que vejo como fundamental para uma entidade científica. Todo pesquisador é em si um migrante, não só pesquisando teóricos brasileiros e latino-americanos, mas também franceses, sul-africanos, americanos, etc.

JORNAL INTERCOM – Como o tema "Desigualdades, Gêneros e Comunicação" impactou as conversas durante o congresso?
GIOVANDRO FERREIRA – O tema do congresso é tratado principalmente nas mesas do Ciclo de Estudos de Ciências da Comunicação, mas também reverbera em outras atividades do congresso como um eixo importante das discussões. O tema do Intercom 2018 é fruto de uma consulta aos 34 Grupos de Pesquisa, que são o coração do congresso e um reflexo da pesquisa realizada na atualidade no Brasil. Assim, há uma forte relação entre o tema central e as discussões realizadas nos GPs. Um aspecto importante neste ano foi o diálogo não só com quem está pesquisando, mas também com quem está militando na sociedade para que essas desigualdades não sejam tão gritantes na nossa realidade. Essa articulação entre pesquisadores e militantes das diferentes causas ligadas a desigualdades e gêneros foi uma riqueza do nosso congresso – um enriquecimento para a pesquisa, gerado por esse entrosamento entre pesquisadores e pessoas que vivem o dia a dia dos movimentos da sociedade brasileira, e, ao mesmo tempo, essas pessoas conhecerem um pouco do que está sendo refletido na academia sobre o tema no qual estão inseridas. É uma via de mão dupla.

JORNAL INTERCOM – E essa dinâmica também instiga novas pesquisas…
GIOVANDRO FERREIRA – Quando encontramos nossos pares, nos confrontamos com problemáticas semelhantes ou não às que estamos pesquisando. Isso nos faz repensar se a direção que tomamos é frutífera ou não. Me lembro agora da história da criação do telefone: quão importante foi para Graham Bell um congresso do qual participou em Paris; ele pesquisava o telégrafo e, ali, pôde pensar em caminhos inovadores. O congresso nos ajuda a confrontar nossa pesquisa e repensá-la a partir das diferentes contribuições ali colocadas. Então, sim: os temas debatidos nos congressos da Intercom certamente têm influência no percurso de diferentes pesquisadores.

JORNAL INTERCOM – Qual outro ponto do Intercom 2018 o senhor gostaria de salientar?
GIOVANDRO FERREIRA – Há um aspecto muito árduo da atividade acadêmica, sobretudo para quem faz pesquisa, que é a burocracia. Então, as atividades culturais nos congressos são muito importantes, tanto pelo aprendizado sobre a realidade local como também pelo deleite que proporcionam. A abertura do Intercom 2018, com apresentações musicais e de dança, foi um momento de que os congressistas gostaram muito. Foi um ponto muito positivo desse congresso: a articulação entre a produção científica e as manifestações culturais da região de Joinville. Precisamos preservar, cada vez mais, essa relação em nossos congressos.

JORNAL INTERCOM – O congresso nacional da Intercom em 2019 será em Belém do Pará. Em sua visão, qual é importância de sair de Joinville, no Sul do país, para uma cidade no extremo Norte?
GIOVANDRO FERREIRA – É função da Intercom ir aonde estão os pesquisadores e as atividades ligadas à Comunicação. Nós temos um país de dimensão continental, por isso levar nossos congressos para cidades que não sejam capitais ou para regiões fora do eixo do Sudeste é um desafio. E acho que a Intercom tem respondido muito bem a esse desafio ao longo de sua história.

JORNAL INTERCOM – Como se deu a escolha do tema do próximo congresso, "Fluxos comunicacionais e a crise da democracia"?
GIOVANDRO FERREIRA – De novo, o tema foi levantado a partir de uma consulta aos 34 Grupos de Pesquisas da Intercom, o que permite obtermos olhares diversos acerca da pesquisa em Comunicação. Ele tem uma ligação com os temas anteriores, inclusive o de 2018, que já trouxeram a preocupação com a democracia. Quando se fala de desigualdades e gêneros, fala-se de cidadania e de democracia, e quando se fala de fluxos comunicacionais e crise da democracia, idem. Na nossa democracia hoje, existe uma crise de representatividade, ou seja, da discursividade social; as novas maneiras de circulação de conteúdo, geradas pelas novas tecnologias, têm mudado a nossa relação com as instituições e com nós mesmos. Os fluxos comunicacionais têm mudado a realidade em vários aspectos, por exemplo: as gerações precedentes iam no médico para ouvir a verdade sobre suas condições de saúde; hoje, quando você vai ao médico, já fez consultas sobre seus sintomas na internet e vai preparado para se confrontar com o que ele vai dizer. Outro exemplo: antes, um presidente fazia um projeto de lei, mandava para a Câmara dos Deputados e, ali, se tramitava; hoje, ele começa tuitando sobre diferentes políticas públicas. Dentro da família também: antes havia uma relação muito mais verticalizada, e veja hoje a relação que temos com nossos filhos. Com isso, quero dizer que a comunicação tem uma implicação na representatividade na sociedade. Dei alguns exemplos cotidianos, mas isso vale para grupos sociais, minorias... O que é o algoritmo senão criar relações dentro do que um outro determina? Enfim, a pesquisa em Comunicação é um espaço privilegiado para se pensar a crise da democracia não só no Brasil, mas também em muitos outros lugares do mundo – o que, diga-se de passagem, é um aspecto histórico das Ciências da Comunicação.

JORNAL INTERCOM – Quais são as expectativas da entidade para o Intercom 2019?
GIOVANDRO FERREIRA – Teremos um congresso também muito bem organizado, com o envolvimento de diferentes faculdades e universidades de Belém e entorno, e uma mobilização em toda a região Norte. A expectativa é de que teremos profundas discussões sobre um tema que faz parte da fronteira do estudo da área da Comunicação. Crise da democracia, fluxos comunicacionais, a questão dos algoritmos são assuntos fundamentais hoje na pesquisa que temos feito.

JORNAL INTERCOM – É possível adiantar alguma novidade da programação de 2019?

GIOVANDRO FERREIRA – Sim: todo mundo vai dançar carimbó [risos].

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