ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro-Oeste</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00229</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO07</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;A grande reportagem multimídia: um olhar ambiental sobre o rio das Garças a partir da hidrelétrica Boaventura</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Kayc Pereira Alves (Universidade Federal de Mato Grosso); Rodrigo Pereira Teodoro (Universidade Federal de Mato Grosso); Jociene Carla Bianchini Ferreira Pedrini (Universidade Federal de Mato Grosso)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Grande Reportagem Multimídia, Jornalismo Ambiental, Webjornalismo, , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho consiste em uma grande reportagem multimídia (GRM) sobre a importância da preservação do rio das Garças, discussão retomada com mais afinco após o anúncio do projeto de instalação da Usina Hidrelétrica Boaventura. O produto aborda o tema a partir da ótica do jornalismo ambiental e evidencia a GRM como um gênero em ascensão no webjornalismo e destaca a importância dos aspectos de multimidialidade e hipertextualidade, entre outros, para o aprofundamento da informação jornalística. Tal caráter mostra-se essencial para a produção de reportagens ambientais, devido às exigências de uma abordagem complexa e profunda do tema. Para a construção da reportagem foi adotado a metodologia de investigação e, como resultado final, verifica-se uma reportagem publicada na web, dividida em três grandes vertentes -  o rio, a sociedade e a hidrelétrica.<br></td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A existência do jornalismo ambiental como segmento da função jornalística mostra o quanto a questão ambiental é passível de um cuidado específico do jornalismo. O tema diz respeito a todos os sistemas naturais do planeta e está intrinsecamente ligado a todos os processos da sociedade humana. Os efeitos negativos causados pelo desenvolvimento acelerado da humanidade já podem ser sentidos. Entende-se que, nesse cenário, o jornalismo é um dos principais agentes da sociedade capaz de propor discussões na esfera pública. Nesse sentido, este trabalho propõe como produto uma grande reportagem multimídia (GRM) ambiental sobre o rio das Garças. A discussão sobre a importância da preservação do rio ressurgiu a partir da possibilidade de instalação da Usina Hidrelétrica (UHE) Boaventura e problematiza as questões de degradação já existentes no curso d'água, bem como a relação entre a sociedade local e o rio. A reportagem "Rio das Garças: um olhar a partir do projeto Boaventura" está publicada na web em um site na plataforma de hospedagem Wix e pode ser acessada no link kaycalvestcc.wixsite.com/riodasgarcas. É importante pensar na construção da notícia ambiental a partir de uma abordagem própria para questões ambientais. Os temas ambientais quando tratados pelo jornalismo devem incluir preocupações com o caráter científico e multidisciplinar das pautas, a visão sistêmica sobre os fatos, a importância da voz dos cidadãos no processo de apuração, a educação ambiental e o engajamento do repórter pela causa. Através da metodologia de produção de reportagem do jornalismo investigativo, os assuntos foram pautados, as informações apuradas e o texto construído. A abordagem jornalística dos recortes do rio das Garças, pela ótica do jornalismo ambiental, apresentou necessidades em sua estrutura de informação e de texto que puderam ser atendidas na forma da GRM, gênero dotado de todas as potencialidades do jornalismo digital e que possibilita um tratamento aprofundado das pautas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo deste trabalho foi produzir uma GRM sobre o rio das Garças a partir da ótica do chamado jornalismo ambiental. O presente trabalho apresenta três capítulos, que se entrecruzam, podendo ser lido na ordem que o leitor preferir. Cada reportagem contempla um aspecto diferente: processos de degradação no rio, relação sociedade-rio e hidrelétrica no rio das Garças. Os recursos do webjornalismo e a escolha do gênero grande reportagem multimídia viabilizou o tratamento aprofundado que o tema e a ótica do jornalismo ambiental exigiram. O texto diverso em linguagem proporciona legibilidade e imersão no assunto. Deus e Montagna (2014) consideram os recursos do ambiente digital, como multimidialidade, hipertextualidade e interatividade, potencializadores da informação, sobretudo se utilizados no gênero do jornalismo aprofundado, a reportagem. Assim, Longhi (2015) destaca a grande reportagem multimídia como gênero aprofundado e interpretativo do webjornalismo e aqui se tomou como desafio a utilização da GRM para atender as necessidades de tratamento da pauta inerentes ao jornalismo ambiental. Como objetivos específicos destaca-se a possibilidade de informar a população da região de Barra do Garças, Pontal do Araguaia e Aragarças sobre a possibilidade de degradação do rio das Garças, que tem sua importância social, cultural e econômica; o incentivo a políticas públicas voltadas à proteção do curso d'água; a oportunidade de subsidiar com informação de qualidade a discussão entre autoridades, sociedade civil e sociedade acadêmica sobre a instalação da Usina Hidrelétrica Boaventura. Destaca-se que os cidadãos comuns devem ser vistos como importantes agentes para a resolução dos problemas ambientais (FONSECA, 2004). Por isso, os objetivos desse trabalham permeiam a ideia de colocar as pessoas como fundamentais participantes nos processos decisórios relativos ao meio ambiente.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente trabalho justifica-se pela proposta de um jornalismo ambiental com níveis maiores de aprofundamento da informação. A função jornalística não tem conseguido explorar a potencialidade da temática ambiental, mesmo com o crescimento do interesse da população por meio ambiente (GIRARDI, SCHWAAB, MASSIERER, LOOSE, 2012). Essa falha se manifesta em diversas formas, seja negligenciando a complexidade e abrangência do tema, seja preferindo uma abordagem reducionista e eventual, no lugar de uma abordagem sistemática. Girardi et all (2012) atribuem a não exploração da pauta ambiental à falta de espaço nos veículos e de valor econômico para reportagens sobre o tema bem elaboradas. A proposta da presente reportagem é o tratamento das questões ambientais a partir de um ethos própria da especialização ambiental, com práticas e fundamentos específicos, as quais os aventureiros do jornalismo ambiental devem obedecer (BUENO, 2008). O trabalho de produção da reportagem sobre tal tema justifica-se ainda pela necessidade de dar voz aos diferentes segmentos da sociedade local, envolvidos nas problemáticas do rio das Garças, como populações, autoridades e cientistas. A apuração do jornalismo ambiental prevê uma diversidade de fontes e destaques na busca da informação científica e na contribuição do cidadão para a produção das reportagens (OLIVEIRA, 1996). Os cientistas apresentam as explicações sobre os fatos e os cidadãos mostram como é conviver com as situações ambientais. Justifica-se também pela necessidade de informar as comunidades sobre as questões ambientais que estão em discussão. Os cidadãos comuns, à margem dos processos de tomada de decisão no âmbito social, precisam ter uma atuação mais próxima das questões ambientais, pois são eles que convivem com os problemas associados a natureza. Fonseca (2004) afirma que a cobertura ambiental em todo o Brasil é precária, limitando-se a cobrir acontecimentos trágicos, sem contextualização e continuidade. Para o autor, a pauta ambiental é importante para a resolução dos problemas ambientais, pois informar é dar condições para que as articulações que os solucionarão surjam da sociedade. O acesso à informação é um direito-meio (GENTILLI, 2005), um direito que garante outros direitos. A água é vital para sobrevivência do ser humano e fundamental para a ordem ambiental e social do planeta, sendo um direito-fim do cidadão. Assim, a informação é a condição inevitável para o acesso ao direito sobre a água. As conferências ambientais, bem como outras divulgações científicas sobre ecologia e meio ambiente, agendaram a imprensa e esta, por sua vez, inseriu a questão ambiental na agenda de discussões das populações. Hoje, é notável a importância do conhecimento ambiental para o público, pois evidências indicam que as informações da mídia sobre meio ambiente originaram mudanças concretas (FROME, 2008) ou ao menos um aumento na preocupação e  busca de alternativas por parte da população (GIRARDI, SCHWAAB, MASSIERER & LOOSE, 2012). A última justificativa para a produção desse trabalho é a importância de se incentivar a utilização de gêneros do jornalismo aprofundado no espaço digital. Os gêneros da linguagem impressa, televisiva e radiofônica estão tentando se adaptar a esse meio de múltiplas mídias e se firmar como novas espécies de texto, especificas do meio (JORGE, 2013). A grande reportagem multimídia é um tipo de texto jornalístico que surgiu recentemente, por volta de 2012 (LONGHI, 2014), como um produto altamente interpretativo e analítico sobre a realidade, com recursos que garantem uma leitura atrativa. É uma forma da expressão jornalística que está em processo de firmar raízes no webjornalismo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Esse trabalho consiste em uma grande reportagem multimídia que tem como pauta a preocupação e preservação do rio das Garças, a partir da possibilidade de instalação da Usina Hidrelétrica (UHE) Boaventura no seu curso. O projeto, ainda em fase de licenciamento ambiental, levantou a discussão sobre a degradação no afluente do rio Araguaia e sua importância para a sociedade local. O produto pode ser conferido no link kaycalvestcc.wixsite.com/riodasgarcas. Pode-se afirmar que o trabalho de coleta de informações desta grande reportagem multimídia iniciou-se em agosto de 2016, quando a Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema-MT) tornou público através de audiências o projeto de instalação da usina. Na época, um dos repórteres, autor deste trabalho, exercia atividades jornalísticas no projeto de extensão  Botoblog: uma proposta de jornalismo ambiental para o Vale do Araguaia . Junto à equipe do site ambiental, ele fez a cobertura do assunto, registrando as audiências públicas e outros fatos relacionados à hidrelétrica. Avaliou-se que o processo de licenciamento ambiental da hidrelétrica no rio das Garças caracteriza-se como uma ocasião adequada para se discutir a vitalidade do rio e sua importância para a sociedade que cresceu ao seu redor. Optou-se por tratar a hidrelétrica como uma possível mudança de cenário nas problemáticas relacionadas aos recursos hídricos já existentes na região. Por isso, foi decidido tratar os problemas de degradação que o rio das Garças já enfrenta e o uso que a sociedade local faz com o curso d água. Esta GRM se valeu de aspectos da metodologia de apuração das etapas de investigação compreendidos no dito jornalismo investigativo, já que o jornalismo ambiental não propõe metodologia específica própria. Apenas institui exigências de apuração que a formalizam como especialidade, as quais se mostram compatíveis à metodologia investigativa. O método é o mais adequado já que a cobertura da grandeza de tal tema não pode ser feita de forma habitual, ignorando a sua atemporalidade, a sua inter e multidisciplinaridade, além da sua considerável carga de informação. O percurso de investigação proposto por Hunter (2013) orienta a tradução de todo o conteúdo em texto jornalístico. O texto, segundo o autor, distingue dois tipos de jornalismo: o convencional e o investigativo. No primeiro, a pesquisa é rápida e as informações são poucas, resultando em um produto objetivo e visto  como um reflexo do mundo (HUNTER, 2013, p.14). No segundo, ao contrário, a pesquisa é aprofundada e longa, com base em provas que atestem as afirmações das fontes e com carga grande de informações. O resultado é a exposição de uma situação ou de um problema com suas soluções e, opcionalmente, dotado de juízo de valor. Esta reportagem trabalhou com dados e grande carga de informação científica, bem como pontos de vista de diversas fontes e o método investigativo se mostrou eficiente. Como exige Hunter (2013), foram traçadas hipóteses para as três partes que dividem a reportagem  o rio, a sociedade e a hidrelétrica  , submetidas à verificação ao longo de toda a apuração. O trabalho parte da ideia de que o jornalismo ambiental possuí características próprias que o destacam de outros jornalismos, especializados ou não. Ele pode ser conceituado como aquele que se dedica ao tema meio ambiente e seus inúmeros subtemas a partir de uma visão sistêmica e holística das realidades que investiga (BUENO, 2008). Esse caráter, por sua vez, prevê abordagens inter e multidisciplinares (BUENO, 2008; GIRARDI, et all, 2012), tendo em vista a diversidade de campos da ciências que as questões ambientais envolvem. É fundamental nessa especialização que se mescle equilibradamente as características do jornalismo científico e do jornalismo cidadão, pois o jornalismo ambiental refere-se à mistura dos diversos campos de conhecimento sem que se negue a centralidade da voz dos cidadãos no debate sobre o meio ambiente (OLIVEIRA, 1996). É uma prática assumidamente comprometida com a defesa da vida e do equilíbrio ambiental (FROME, 2008) e, por essa razão, tem um caráter educativo que objetiva moldar o comportamento dos indivíduos em benefício do meio ambiente (LÜCKMAN, 2008). Por fim, os produtos originados do jornalismo ambiental são jornalisticamente engajados na causa do meio ambiente (FROME, 2008). Na pauta da parte  o Rio , trabalhou-se com a hipótese de que existem processos de degradação em curso no rio das Garças, que podem acarretar em perdas de difícil reversão ou irreversíveis. Através das óticas de especialistas e pessoas que vivem do rio e o observam constantemente, buscou-se traçar um perfil da degradação do rio e compreender qual a importância de se preservar o rio para o equilíbrio da natureza na região. A partir da inclusão dos pescadores como fonte de informação para esse capítulo, começa-se a discutir também a importância do rio para as comunidades locais, além de se fazer um breve apontamento da hidrelétrica como agravante nos problemas que já existem no rio. A hipótese de que o rio das Garças molda a sociedade que o cerca, sendo fundamental para as pessoas que moram na região de Barra do Garças, também conduziu uma parte da reportagem. A pauta sobre a sociedade buscou identificar a comunidade que vive em torno do rio e qual o uso que esta faz dele. O material coletado após a apuração possibilitou a abordagem de algumas atividades que os recursos do rio oferecem para os seres humanos como a pesca esportiva, de subsistência, o turismo, a recreatividade e a prática de esportes. Na parte  a hidrelétrica , partiu-se da hipótese de que existem questionamentos ao processo de licenciamento da UHE Boaventura que podem revelar impactos negativos irreversíveis ao rio das Garças e ainda ao rio Araguaia. O capítulo buscou expor as indagações ao projeto de construção e funcionamento da UHE Boaventura, detalhar o projeto e mostrar perspectivas sobre o cenário de produção de energia com base na matriz hídrica no Brasil. Foi usado como método de apuração das informações, a pesquisa em bancos de dados e a entrevista semi-aberta em profundidade (DUARTE, 2010), com o objetivo de explorar ao máximo o conteúdo das fontes. Embora Duarte refira-se a pesquisa científica quando define a entrevista em profundidade e semi-aberta, a conceituação também se encaixa na pesquisa jornalística, uma vez que o mesmo objetivo é observado: aprofundar cada questão até que se obtenha a resposta desejada, que traga uma noção interpretada dos fatos (2010). A entrevista em profundidade se mostrou um recurso positivo no tratamento com as fontes de vivência, aquelas que convivem com as problemáticas pautadas, pois permitiu explorar a relação pessoal que as pessoas entrevistadas tinham com o rio das Garças, bem como a percepção que essas tinham quanto aos problemas de degradação identificados no curso d água. Com as fontes especializadas, a entrevista semi-aberta em profundidade possibilitou aprofundar os temas científicos e colher interpretações especializadas sobre os fatos. Os bancos de dados mais utilizados foram monitoramentos de qualidade de água e balneabilidade da Sema-MT, laudos de controle de qualidade da empresa Águas de Barra do Garças, estudo de impacto ambiental e relatório de impacto ambiental (EIA/Rima) realizados para o projeto UHE Boaventura e Sistema de Informações Georreferenciadas do Setor Elétrico. Também foi utilizado um volume de textos realizados por um grupo de cientistas que analisa o EIA/Rima e destaca os equívocos e faltas do documento. As informações de bancos de dados serviram para verificar hipóteses e pressupostos, confirmando-os ou não. O texto foi escrito prevento as necessidades multimídias da proposta de trabalho. A plataforma digital do site foi ocupada por textos escritos, fotos e vídeos. A linguagem audiovisual foi importante para aprofundar o relato das fontes e mostrar visualmente as cenas dos fatos ambientais que a reportagem aborda. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O processo de apuração resultou em uma grande reportagem multimídia dividida em três partes: o rio, a sociedade e a hidrelétrica. Cada parte representa um núcleo de informação isolado e completo, mas que possui relações com as demais partes. Esses núcleos estão conectados por hiperlinks e podem ser lidos na ordem que o leitor desejar, sendo este o próprio autor do caminho de leitura que percorre (Souza, 2008). Os dois aspectos que definem a GRM destacados por Longhi (2015) são a forma longform de escrita, caracterizada por uma escrita longa, e a utilização de recursos da web, mais precisamente a hipertextualidade, a multimidialidade e a interatividade. A reportagem aqui apresentada procurou respeitar essa conceituação do gênero webjornalístico. O texto escrito da parte  o Rio é dividido em dois intertítulos. O primeiro contempla o problema do assoreamento no rio das Garças e o segundo dispõe sobre uma das razões desse problema, a devastação das matas ciliares. Também traz a possibilidade de agravamento do assoreamento com a instalação da usina hidrelétrica Boaventura. O texto audiovisual está incorporado no segundo intertítulo e traz trechos de relatos de navegadores sobre a devastação nas margens do rio, bem como imagens das matas em condições ruins para a biodiversidade. A parte  a Sociedade é dividido em dois intertítulos. O primeira aborda a integração entre sociedade e rio a partir de atividades como o turismo, o uso recreativo e a pesca. O segundo relata as ações populares para a proteção do rio, tendo em vista que não existem muitas ações por parte do poder público. O texto audiovisual está no primeiro intertítulo, dividindo o texto escrito com relatos do barqueiro que promove passeios nos rios da região e do navegador a caiaque, também descrevendo seu ofício de promover atividades turísticas. O texto da parte  a Hidrelétrica é dividido em dois intertítulos. O primeiro dispõe os detalhes do projeto UHE Boaventura e relata alguns questionamentos feitos por especialistas ao estudo de impacto ambiental do empreendimento. O trecho ainda informa a atual situação do projeto. O segundo intertítulo apresenta uma abordagem sobre problemas no próprio cenário da produção elétrica com base na matriz hídrica. O texto audiovisual é composto por um vídeo de especialistas informando sobre doenças transmitidas por insetos na região. Cada parte contou com uma apresentação, em que se dispunha uma imagem para ilustrar o tema, uma retranca para identificar o tema e um texto introdutório ocupando a função de linha fina da parte. O caráter científico e multidisciplinar do jornalismo ambiental se mostrou presente em todo o processo. Como o tema perpassa diversas áreas das ciências biológicas, houve a preocupação de fundamentar a reportagem com informações científicas. Para entrevistar as dez fontes especializadas, o repórter se preparou para as entrevistas através da leitura de artigos acadêmicos e busca em fontes diversas na internet, que possibilitaram maior compreensão sobre os assuntos. As vozes dos cidadãos também foram ouvidas e se mostraram fundamentais para a construção da reportagem. As fontes de vivência se concentraram, principalmente, na parte  a sociedade , onde seus relatos se destacaram. Mas também foram importantes nas demais abordagens, onde relataram as percepções que tinham sobre a situação do rio, o qual convivem quase diariamente. O olhar sistêmico e holístico sobre os fatos ambientais também pode ser percebido uma vez que a reportagem, dividida em partes que destacam aspectos do rio, pode ser vista como um todo, interligado. A interferência em um dos elementos pode levar ao comprometimento de todo o sistema. É exatamente como um agravante às problemáticas já em curso no rio das Garças que a UHE Boaventura é apresentada. Dessa forma, observou-se que o engajamento do repórter, diante de tamanha questão que envolve uma série de interesses, foi positivo para a busca da informação correta e de qualidade. O engajamento não fecha os olhos do jornalista, pelo contrário, incentiva-o a procurar evidências daquilo que acredita. Se o esforço de apuração não conseguiu confirmar postulações iniciais, com certeza trouxe à tona outros problemas relacionados ao rio de tamanha relevância. Na web, a reportagem ocupa quatro páginas da hospedagem Wix: uma apresentação com breve introdução da reportagem, apontando o foco geral e o link para cada parte do produto; uma página para  o rio ; para  a sociedade ; e para  a hidrelétrica . Todas as páginas têm um cabeçalho, com o nome da reportagem e um menu com acesso a todos os capítulos. Foi pensado um visual simples, sem o uso de muitas cores, priorizando a cor branca do fundo do texto. A coluna de texto foi alinhada à esquerda e ocupa o centro da página, enquanto as fotos e vídeos acompanham o texto escrito. O design proporciona uma leitura limpa, sem interferências visuais que possam tirar a atenção do texto. A reportagem também dialoga com outras páginas da web através de hiperlinks. Estes levam a outros sites, com conteúdo extra de informações, aprofundando subtemas da reportagem. Os hiperlinks foram dispostos ao longo do corpo de texto escrito, em palavras ou frases. O hipertexto proporciona uma rede de informações, oferecendo opções de leitura ao internauta. Além da disposição de outras matérias nesses links, foi inserido também documentos e bancos de dados, o que possibilita ao leitor a consulta na própria fonte. Utilizando o recurso da multimidialidade, os vídeos serviram para aprofundar o relato das fontes. A estrutura do texto escrito traz as informações dos entrevistados de forma mais concisa. Além dos recursos de som e imagem, que dão identidade às vozes, o texto audiovisual comporta uma carga maior de informação em seu conteúdo, que pode ser lido de forma rápida e agradável. A variação de mídias ainda ocasiona oportunidades de descanso ao leitor no texto longo da GRM. Fotos e vídeos são momentos de pausa na leitura do texto escrito, que predomina nessa forma de redação. Assim, a reportagem sobre o rio das Garças atende àquilo que se propôs. O produto final discute as questões de degradação do rio e a importância do manancial para a região, a partir de uma ótica do chamado jornalismo ambiental. Ele utiliza os recursos do gênero grande reportagem multimídia para compreender a dimensão do tema e oferecer ao internauta um conteúdo jornalístico aprofundado e legível. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Este trabalho teve como resultado a grande reportagem multimídia  Rio das Garças: um olhar a partir do projeto Boaventura , que atendeu às proposições acertadas no início de sua elaboração. A reportagem apresenta-se como um produto aprofundado e multidisciplinar, capaz de levar esclarecimentos à população sobre o rio das Garças e seu futuro, caso os processos de degradação prossigam e centrais hidrelétricas sejam licenciadas e instaladas no manancial. A linguagem do meio digital e do gênero GRM propiciaram a organização da informação de forma a otimizá-la, garantindo qualidade, aprofundamento no assunto e maior interação entre texto e leitor. Nota-se que o produto apresenta as características do jornalismo ambiental, citadas por vários teóricos da área. São traços que definem o tratamento da pauta ambiental como especialização do campo do jornalismo. Observa-se ainda que a grande reportagem multimídia possui as características de texto adequadas à produção de textos jornalísticos ambientais. Não se pretende determinar que esse tipo de texto aprofundado seja o único a ser utilizado pelos jornalistas ambientais, mas a RGM parece expressar esse caráter de múltiplas conexões temáticas do jornalismo ambiental, e assim possibilitar reportagens expressivas da especialização em meio ambiente. O caráter multi e inter [disciplinar] do jornalismo ambiental se encaixa em uma narrativa aprofundada e imersiva, dividida em hiperlinks. Assim, a narrativa hipertextual e multimídia contribuiria para construção da arquitetura do texto jornalístico ambiental. É importante que o jornalismo reconheça as qualidades da grande reportagem multimídia no cenário do webjornalismo. Esse gênero encontra público leitor e tem se mostrado eficiente na produção jornalística, quanto ao aprofundamento dos temas e a quantidade de informação que integra. A GRM explora a potencialidade que o meio digital oferece, característica importante para o jornalismo que ainda está em mutação. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo Ambiental: explorando além do conceito. (In) GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; MARCONDES, Adalberto Wodianer. Jornalismo ambiental: desafios e reflexões. Porto Alegre: Dom Quixote, 2008.<br><br>DEUS, Sandra de; MONTAGNA, Amanda Pansera. Jornalismo interpretativo na era digital: o espaço da reportagem no Globoesporte.com. Ponta Grossa: Revista Pauta Geral  Estudos em Jornalismo, 2014. P. 77-90. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/pauta/article/view/5916/3720> Acesso em: 05 jan. 2017.<br><br>FONSECA, André Azevedo da. Água de uma fonte só: a magnitude do problema em uma experiência concreta. In: VILAS BOAS, Sergio. Formação e informação ambiental: jornalismo para iniciados e leitos. São Paulo: Summus, 2004.<br><br>FROME, Michael. Green Ink: uma introdução ao Jornalismo Ambiental. Tradução Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Editora UFPR, 2008.<br><br>FROME, Michael. Green Ink: uma introdução ao Jornalismo Ambiental. Tradução Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Editora UFPR, 2008.<br><br>GENTILLI, Victor. Democracia de massa: jornalismo e cidadania. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005.<br><br>GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; SCHWAAB, Reges; MASSIERER, Carine; LOOSE, Eloisa Beling. Caminhos e descaminhos do jornalismo ambiental. C&S, São Bernardo do Campo, v. 34, n. 1, p. 131-152, jul./dez. 2012.<br><br>HUNTER, M. (Org.). A investigação a partir de histórias: um manual para jornalistas investigativos. UNESCO, 2013. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0022/002264/226456POR.pdf>. Acessado em: 29 de julho de 2013.<br><br>JORGE, Thais de Mendonça. Mutação no jornalismo: como a notícia chega à internet. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013. p. 11-41.<br><br>LOGHI, Raquel Ritter. A grande reportagem multimídia como gênero expressivo no ciberjornalismo. Trabalho apresentado no 6º Simpósio Internacional de Ciberjornalismo, Campo Grande, 2015. Disponível em: <http://www.ciberjor.ufms.br/ciberjor6/files/2015/03/LONGHICIBERJOR.pdf> Acesso em: 06 jan. 2017.<br><br>LONGHI, Raquel Ritter. O turning point da grande reportagem multimídia. Artigo apresentado no 12º Encontro da SBPJor  Sociedade Brasileira de Pesquisadores de Jornalismo. Santa Cruz do Sul, 2014.<br><br>LÜCKMAN, Ana Paula. O Jornalismo Ambiental educa? Reflexões a partir de um estudo de recepção. (In) GIRARDI, Ilza Maria Tourinho; MARCONDES, Adalberto Wodianer. Jornalismo ambiental: desafios e reflexões. Porto Alegre: Dom Quixote, 2008.<br><br>OLIVEIRA, Fabiola de. Democracia, Meio Ambiente e Jornalismo no Brasil. In.: DENCKER, Ada de Freitas Maneti; KUNSCH, Margarida Maria Khroling. Comunicação e Meio Ambiente. São Bernardo do Campo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação  Intercom, 1996. P. 61-69.<br><br>SOUZA, Marcelo Freire Pereira de. Narrativa hipertextual multimídia: Um modelo de análise de webreportagens a partir da formação de múltiplas linhas narrativas aplicado às produções Nação Palmares, da Agência Brasil e 40 anos do maio de 68 do portal G1. 2008. 115. Dissertação de Mestrado em Comunicação na área de concentração Comunicação e Cultura Contemporânea. Programa de Pós-graduação em Comunicação e Culturas Contemporâneas, Faculdade de Comunicação, Universidade Federal da Bahia. Salvador, BA. 113 p.<br><br> </td></tr></table></body></html>