ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00245</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT13</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;379</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Bruna Nicoletti (Universidade do Sul de Santa Catarina); Beatriz Wagner da Rocha (Universidade do Sul de Santa Catarina); Guilherme Martins da Cunha (Universidade do Sul de Santa Catarina); Marcela Silva Teixeira (Universidade do Sul de Santa Catarina); Matheus Roth (Universidade do Sul de Santa Catarina); Luciano Gonçalves Bitencourt (Universidade do Sul de Santa Catarina); Daniel Izidoro (Universidade do Sul de Santa Catarina)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;binaural, comunicação, tortura, , </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Utilizando a técnica binaural, o trabalho de áudio  379 coloca seu espectador o mais próximo de um momento de tortura, causando nele sensações não apenas auditivas, mas também sensoriais  frio, desconforto, tensão, agonia. Realizado a partir de uma profunda pesquisa sobre métodos e formas de como um ser humano é capaz de atormentar a outro através de castigos físicos, morais e psicológicos, a produção foi desenvolvida para o quarto ciclo, referente ao segundo semestre de 2016, dos cursos de graduação de Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade do Sul de Santa Catarina.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O conceito de tortura é frequentemente associado apenas a regimes ditatoriais e períodos de exceção que buscam confissões, verdadeiras ou não, mas este não é o enfoque deste projeto. A experiência em áudio  379 busca trazer uma análise mais ampla deste conceito, o associando a qualquer tipo de violência extrema que fira a dignidade humana, como por exemplo violência contra a mulher, violência psicológica, assédios, violência doméstica, entre outros, mas não deixando de lado também os atos cometidos por regimes e governos. O ponto comum da prática da tortura encontra-se quando a força sobrepõe à razão, fazendo aquilo que nas palavras de Biazevic (2004) é uma forma de desumanizar a humanidade. O áudio de onze minutos busca trazer um retrato extremo destas práticas que podem ocorrer nos ambientes mais variados. Na história recente do Brasil existem dados acerca de formas de tortura aplicadas aos presos políticos, que enfrentaram a mais dura forma de repressão entre aos anos de 1964 e 1985  período da ditadura civil-militar instaurada no país. Este foi o período no qual houve maior visibilidade para as questões relacionadas a tortura no Brasil, até a atualidade. Por este motivo este intervalo de tempo foi escolhido como a segmentação do projeto. Mas entendendo que mesmo se fossem mudados os retratos e a trama se passasse em uma casa, um escritório ou uma prisão nos tempos atuais, a essência da experiência ainda seria a mesma, de incitar a reflexão sobre o assunto. A partir de tais histórias e dados, o trabalho interdisciplinar  379  número de desaparecidos durante o governo militar - apresenta alguns métodos de tortura que eram aplicados àqueles que se encontravam sob a responsabilidade do Estado. Para tanto, buscou-se reproduzir de maneira verossímil, através da técnica binaural, uma espécie de áudio 3D que cria duas ondas de frequências sonoras distintas e por isso deve ser reproduzido em fones de ouvido, os métodos aplicados durante o regime. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> A experiência sonora tem três objetivos fundamentais, são eles: criar um ambiente de tensão que envolva os visitantes da experiência sonora, sensibilizar as pessoas a respeito do tema e suas derivações e conscientizar sobre a importância de lutar contra qualquer tipo de tortura. Entre os três grandes itens citados acima está o de sensibilizar a respeito da tortura e suas derivações. Neste viés pretendemos abordar a diferença entre tortura psicológica e física, ressaltando a importância de se identificar algumas falas e atos que muitas vezes não são considerados flagelação por grande parte da sociedade, mas que sim são de extrema importância ser considerados como tortura tanto pelos órgãos de segurança pública quanto pela população. O trabalho intenciona relacionar um exemplo muito extremo com a realidade de todos os dias. Deixando o participante instigado a questionar mais sobre o assunto. Para conseguir atingir estes objetivos é necessária uma ampla pesquisa baseada em um retrato da tortura. No caso desta experiência os atos cometidos na Ditadura Militar Brasileira foram escolhidos para simbolizar os variados processos de tortura. O trabalho tomou esta direção na medida que o período escolhido foi o que mais trouxe a discussão sobre o tema no Brasil. Sendo lembrada até a atualidade em livros, novas descobertas e mais recentemente com a Comissão da Verdade e o possível julgamento de alguns militares torturadores. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Segundo Zimbardo (2008),  o mal é o exercício do poder. E esta é a chave: é sobre poder. Intencionalmente ferir pessoas psicologicamente, ferir pessoas fisicamente, destruir pessoas mortalmente, ou ideias, e cometer crimes contra a humanidade . Os atos de tortura estão sempre ligados ao poder, este é um elemento fundamental para as análises que buscam entender os motivos e anseios de um torturador. Hoje há um consenso de que tortura é uma prática desumana e que não deve ser aplicada. Mas ainda assim se buscarmos pela palavra tortura no Google surgem aproximadamente 34 milhões de resultados em apenas dois terços de segundo. Entre os sites mais buscados estão alguns que explicam detalhadamente métodos e técnicas de tortura, o que não deveria ser comum, mas que está ao alcance de qualquer um que queira cometer atrocidades. O documentário  O Ato de Matar produzido por Wagner Herzog demonstra claramente o que acontece em uma sociedade quando a tortura é popularizada e tornada comum. Nele os homens responsáveis pelo genocídio da indonésia reencenam seus crimes, alguns deles hoje sabem que o que fizeram foi errado, mas ao tentar demonstrar como tinham realizado cada tipo de crime acabavam rindo e banalizando mais uma vez os seus atos. Trazendo a discussão para o tema do trabalho que é a Ditadura Militar Brasileira temos diversas fontes de exemplos sobre como a tortura se tornou uma das principais armas do regime. A mais reconhecida delas é o livro  Brasil Nunca Mais que traz a tona alguns dos aspectos obscuros desta época: A tortura foi indiscriminadamente aplicada no Brasil, indiferente a idade, sexo ou situação moral, física e psicológica em que se encontravam as pessoas suspeitas de atividades subversivas. Não se tratava apenas de produzir, no corpo da vitima, uma dor que a fizesse entrar em conflito com o próprio espírito e pronunciar o discurso que, ao favorecer o sistema repressivo, significasse sua sentença condenatória. Justificada pela urgência de se obter informações, a tortura visava imprimir à vitima a destruição moral pela ruptura dos limites emocionais que se assentam sobre relações efetivas de parentesco. Assim, crianças foram sacrificadas diante dos pais, mulheres gravidas tiveram seus filhos abortados, esposas sofreram para incriminar seus maridos. (ARNS, 1985) Baseada nessas e em outras referências sobre a tortura com todas as suas peculiaridades e padrões esta experiência em áudio busca relembrar a cada ouvinte a importância de se combater qualquer tipo de pratica, seja ela por governos, por grupos organizados de pessoas ou mesmo pela família e amigos, que praticam principalmente a tortura psicológica. O intuito do projeto é proporcionar uma imersão neste mundo, apresentar uma experiência tridimensional para que os objetivos sejam cumpridos. Para isso a escolha do tipo de áudio foi fundamental, a utilização do microfone binaural para a captação da peça possibilitou que todo um ambiente pudesse ser criado no imaginário do receptor. Outro fator indispensável para o sucesso do projeto é o papel que é representado pelo ouvinte, entendendo que dependendo de quem ele simboliza a visão sobre a peça muda completamente. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> Entre as mais desafiadoras questões do projeto se deu no momento da escolha da abordagem da temática tortura. Apesar de esse ser um tema que trata de violências, de violações e péssimas lembranças históricas este já é um assunto muito tratado e discutido, na vida social e no âmbito acadêmico. Pensar fora da caixa, sair do censo comum era um dos pontos fundamentais para o sucesso da peça. Por isso, a escolha de trabalhar com áudio, com a reprodução de uma suposta tortura. Baseada no seguinte aspecto: Mostrando as relações entre o olho e o ouvido, Wulf lembra que, enquanto o primeiro reduz o mundo a uma imagem bidimensional, o segundo capta a tridimensionalidade do espaço. Enquanto o olho, altamente centrado, percebe objetos que se encontram à sua frente, de forma estática, o ouvido permite o senso de equilíbrio, o sentido de localização no espaço e a percepção da sucessão dos sons na perspectiva do tempo. (MENEZES, 2008) A sociedade atual é baseada em imagens: vídeos, fotos, holografias, letras e formas. Mas este excesso de imagens acaba a levar a abstração, apenas olhar algo e não enxergar propriamente o que cada imagem tem a dizer. Por isso, quando se pensa em um projeto é necessário saber como ele vai se destacar em um mundo no qual a sociedade não enxerga mais o que está a sua frente. O diferente então volta a ser o velho, o ouvir, que era quase que unanime antes da era da televisão. Mas não deixando de lado as imagens, e sim, sincronizando as mídias para que uma imagem se forme não em uma tela, mas no imaginário do ouvinte. Não se trata aqui de negarmos a importância da comunicação bidimensional do universo das imagens ou da comunicação unidimensional do universo da linearidade da escrita, mas de transitarmos entre os quatro processos de comunicação e observarmos onde podemos ouvir e cultivar vínculos sonoros. (MENEZES, 2008) Outra questão de extrema importância para o entendimento das escolhas feitas na peça é a relação entre a tortura, o estranhamento e a memória não romantizada. Jaime Ginzburg discute sobre a romantização e a banalização de atos muito repulsivos, como o holocausto, devido à repetição dos fatos de forma trivial e orgânica. Para ele quando da experiência do trauma é removida a estranheza, o risco da insignificância é iminente. A questão que o autor levanta é: Como então pode um escritor, ao mesmo tempo, impedir que os fatos sejam esquecidos, para alertar as gerações seguintes, e evitar o enfrentamento da experiência terrível do reencontro com o extremo da dor? Como conciliar o empenho da memória com a resistência ao horror? (GINZBURG, 2005) Tornar o projeto uma realização singular sobre o assunto baseia-se no equilíbrio que o deixa racionalizado e articulado, mas sem abandonar o impacto necessário para despertar sensações diversas. Ou seja,  379 foi pensado para trazer o tema a tona de uma forma forte e marcante, mas ao mesmo tempo não esquecendo todas as questões e possíveis consequências que o rodeiam. Outro fator relevante para a construção da proposta é a sinestesia. Basbaum (2003), define este conceito como:  A palavra  sinestesia é de origem grega:  syn (simultaneas) mais  aesthesis (sensação), significando  muitas sensações simultâneas - ao contrário de  anestesia , ou  nenhuma sensação  . Ela embasou a escolha das percepções sobre como o trabalho deveria ser colocado em prática, deixando muito clara a opção da sinestesia como uma possibilidade totalmente transformadora, que mudaria toda a visão do áudio. Por fim, foram adotados, além da audição, os sentidos do tato e da visão, ou a falta dela. Tornando o projeto a união de três sentidos, que criam um turbilhão de significados simultaneamente, tornando a experiência mais relevante. Definidos estes aspectos, escolher o período ou atos que retratariam a tortura necessitou de mais um processo de pesquisa e busca intenso. Por fim, remeter à realidade brasileira se tornou uma unanimidade. Desta forma, é necessário entender os processos autoritários no país e no mundo, refletindo sobre como são as marcas que um regime opressor pode deixar. O autoritarismo é algo que deve ser analisado no plano da longa duração histórica. Se, institucionalmente, ele pode ser definido em marcos cronológicos rígidos, socialmente, ele tende a proliferar seus tentáculos ramificando-se por todo o tecido social, apresentando grandes dificuldades de desativação mesmo após encerrada a sua fase institucional. Entretanto, momentos de autoritarismo estatal explícito (caso do regime militar brasileiro recente) acarretam novas heranças autoritárias para a sociedade, tornando, cada vez mais complexa, a democratização das relações sociais. Entre o plano institucional (macro) e o social (micro) estabelece-se uma urdida trama de mútua alimentação e recíproca dependência. (AQUINO, 1999) Tendo em vista que o regime militar brasileiro foi um dos períodos mais explícitos da tortura no país, e que mesmo assim este tema não é tratado frequentemente com certa profundidade, devido à algumas feridas históricas e também à uma certa omissão de fatos e números, ele se tornou o arquétipo desta experiência. O projeto busca incitar uma discussão mais complexa sobre a postura do governo a partir dos chamados  linha dura , onde iniciaram propriamente as práticas que violavam os direitos humanos, na tentativa de questionar então o período e seus feitos: Apesar da implantação em 1964 de um governo de força, somente a partir do AI-5 é que a tortura se tornou uma política oficial de Estado. A vitória da chamada "linha dura", o golpe dentro do golpe instituíram o terrorismo de Estado que utilizou sistematicamente o silenciamento e o extermínio de qualquer oposição ao regime. O AI-5 inaugurou também o governo Médici (1969-1974), período em que mais se torturou em nosso país. (COIMBRA, 2011) Foi com base nestes métodos, técnicas e observações que o projeto  379 se estruturou e se tornou uma experiência de sucesso. Estes embasamentos teóricos foram fundamentais na escolha de alguns processos e caminhos a serem seguidos. Todas as questões que foram explanadas neste item contribuíram de alguma forma para a completude da experiência como um todo. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify"> O projeto começou a ser elaborado em agosto de 2016 para a disciplina de Expressões Sonoras da quarta fase dos cursos de Jornalismo e Publicidade da Unisul, e desde este momento todos os detalhes começaram a ser pensados. Podemos dividir este trabalho conjunto em três etapas: pré-produção, produção e pós-produção. A pré-produção foi um momento primordial para algumas das mais importantes decisões do projeto. A escolha do tipo de áudio foi a primeiro delas, listar todos os métodos e verificar qual se encaixaria mais na proposta foi fundamental. Por fim foi adotado o estilo binaural, que cria duas ondas de frequência distintas, apresentadas separadamente, cada uma em um ouvido, o que gera a sensação de áudio 3D, no qual o ouvinte estaria inserido no ambiente. A partir deste ponto começaram as pesquisas aprofundadas sobre o assunto, era fundamental entender como e porque as torturas eram feitas. Entender também o que se passa na mente de um torturador e de uma vítima. A pesquisa abrangeu também os métodos utilizados principalmente pelos torturadores da Ditadura Militar Brasileira e neste ponto do projeto já foram definidos quais seriam as técnicas aplicadas na experiência. Neste aspecto o apoio do professor Luciano Bitencourt tornou muito mais complexos os questionamentos que tínhamos sobre o assunto. Ele indicou autores e referências que depois foram de extrema importância para o embasamento teórico e para a produção técnica do trabalho. E além de tudo deu todo suporte nas questões tanto da pesquisa que deveria ser feita, mas também no entendimento maior sobre áudio e suas especificidades. Com as pesquisas finalizadas foi iniciada a montagem do roteiro, que precisava de um forte embasamento sobre o assunto. A etapa anterior foi fundamental na montagem da cena, a ordem das torturas, as falas dos torturadores, tudo foi encaixado perfeitamente conforme a pesquisa realizada, o que gerou um resultado muito mais completo. Como produto final optamos por cinco personagens. Dois torturadores, um policial e dois torturados. Sendo que, um dos torturados é a pessoa quem escuta, é um personagem sem falas, mas que está presente na cena pois há interação dos outros com ele. A quarta parte ainda deste tópico foi a escolha dos atores. Quem teria a capacidade de representar uma cena tão forte e perturbadora. Para isso o apoio do Núcleo Cênico da Unisul e dos atores Jorge Garcia, Milena Roscioli e Bruno Matos foi de extrema importância, pessoas que ajudaram sobretudo a compor o projeto de uma forma única. Após receberem o roteiro os atores também colocaram um pouco de suas personalidades dentro de cada personagem. Um dos pedidos deles é que houvesse uma ambientação na noite de gravações para que eles conseguissem imergir na realidade tratada. No período de produção, além da gravação do produto, foi necessário fazer testes e escolher qual material faria o som de cada tipo de tortura. Pois, trazer à experiência uma sensação real era um dos grandes desafios do projeto, que pretendia ser fiel à realidade, mas sem propriamente torturar ninguém durante processo. Os principais itens escolhidos para esta representação foram: tapete, água, cabo de vassoura, cabos, arma de choque e uma grande estrutura de madeira. Além de uma caixa de som ao fundo reproduzindo o som de uma goteira. Todos estes elementos auxiliaram na criação de uma paisagem sonora hostil e perturbadora. A gravação ocorreu em apenas uma noite em uma das salas da Universidade do Sul de Santa Catarina com a presença do grupo, dos atores e do professor Daniel Signorelli, que possibilitou a gravação com o microfone binaural. O professor além de disponibilizar o equipamento nos auxiliou no manuseio do instrumento e no posicionamento dos atores durante as cenas. Ao todo foram gerados quatro takes de aproximadamente 11 minutos cada. A pós-produção se deu no momento da escolha de qual das gravações seria utilizada no projeto. Não houve edição no áudio escolhido, tendo em vista que a decisão da reprodução em formato binaural não dava a possibilidade de haver grandes edições no material produzido. Neste momento começou a ser montada a experiência e o evento presencial de apresentação do projeto. O lugar escolhido foi o laboratório AEIOU da Unisul, idealizado pelo professor Daniel Izidoro, um espaço totalmente pensado e planejado para eventos deste cunho, que conta com isolamento acústico e visual, com todas as paredes e o chão pintados de preto. Aproximadamente 17 pessoas participaram da experiência que se iniciava antes mesmo de adentrar no projeto. Os convidados eram previamente avisados do teor forte e que haviam cenas de violência. A orientação era de que se alguém não desejasse mais participar, antes do início ou durante a peça, tinha total liberdade para deixar o espaço. Após este aviso as pessoas tinham os sapatos tirados e eram vendadas antes de entrarem no laboratório. Já dentro da sala havia o ambiente mais hostil possível, o participante era colocado em uma cadeira de ferro e tinha as mãos e pernas amarrados. Os pés foram colocados em um tapete molhado e um forte ar gelado nas costas completava a experiência física. Só então ao começar a ouvir o áudio  379 a parte psicológica do processo era iniciada. O intuito de toda essa preparação é criar uma experiência não só auditiva, mas sim, na qual realidade e ficção se misturam, gerando uma perturbação psicológica para que haja então a sensibilização e o engajamento do participante. Na noite na qual a experiência foi colocada em prática, após os participantes saírem da imersão um membro do grupo os estava esperando para colher um feedback e algumas falas sobre as percepções que tinham sido causadas. Alguns saiam chorando, outros não tinham reações, mas a grande maioria saia em choque e relatando que o áudio tinha se tornado muito real por ser binaural e pelos outros elementos que estavam compondo o espaço. Ao todo foram quatro horas de evento, que causaram um impacto nas pessoas que estavam presentes. Devido ao sucesso os professores e alguns alunos que não tiveram a oportunidade de participar na primeira apresentação solicitaram que toda a experiência ocorresse novamente. Por isso, durante o primeiro semestre de 2017 haverá uma nova oportunidade para quem se interessar e quiser entender mais um pouco sobre a tortura e suas sensações. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify"> Ao final do projeto foi constatado o sucesso na realização dos objetivos propostos. Principalmente no que se refere a sensibilizar a respeito da tortura e suas derivações. Além das questões de processo e produto que foram cumpridas com êxito, a intervenção se tornou um termômetro para saber como o público enxergou a experiência em áudio  379 . Para isso, ao final de cada reprodução o participante era convidado a dar um breve relato sobre as sensações que foram acionadas durante a experiência. A aluna Adriee Marmentini, do curso de Publicidade e Propaganda da UNISUL, contou um pouco sobre o que achou:  Eu senti bastante aflição, especialmente com meus olhos vendados. Os gritos eram muito impactantes, eu gostei muito da experiência. Eu senti como se estivesse vivendo aquilo de verdade . Já o estudante de Jornalismo Bruno Atanazio, da mesma universidade, relatou que  foi sensacional, genial o jeito que criaram. Eu já tinha ouvido um áudio 3D antes, mas esse foi muito real. Conseguiram fazer parecer de verdade! Pareceu que a menina estava do meu lado, no final eu estava pensando que era o próximo . A apresentação iniciou às 19h e foi finalizada às 23h, totalizando quatro horas de exibição. Os objetivos do grupo foram atingidos e a forma de receber os convidados foi como a imaginada. Criando um ambiente de tensão que envolvesse o participante em toda a experiência sonora, incluindo a estrutura física projetada para esta ambientação. Uma das questões percebidas após todo esse processo é que este é um assunto muito recorrente em salas de aula, mas que ele ainda é pouco discutido sobre o viés trazido pelo projeto, apesar de ocorrer frequentemente no cotidiano de muitas pessoas. A tortura, tanto física quanto psicológica, é um meio desumano de poder e repressão e por isso incitar os questionamentos sobre estas práticas era um dos principais objetivos do projeto, e sim, podemos dizer que ele foi cumprido. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">AQUINO, Maria Aparecida de. Censura, Imprensa, Estado Autoritário (1968 - 1978). Bauru: Edusc, p. 17, 1999. <br><br>BASBAUM, Sergio. Sinestesia e percepção digital. TECCOGS: Revista Digital de Tecnologias Cognitivas, v. 03, p. 245, 2012.<br><br>BIAZEVIC, Daniza Maria Haye. A história da tortura. 2004. Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/8505/a-historia-da-tortura>. Acesso em: 09 nov. 2016.<br><br>COIMBRA, Cecília Maria Bouças. Práticas psi e Tortura no Brasil. Psicologia Política, São Paulo, v. 2, p.69-79, jul. 2011.<br><br>GINZBURG, Jaime. Escritas da Tortura. Disponível em: <http://www.redalyc.org/html/162/16200306/>. Acesso em: 05 out. 2016.<br><br>MENEZES, José Eugenio de O. Cultura do ouvir: os vínculos sonoros na contemporaneidade. Líbero, [S.l.], n. 21, p. 112-114, jun. 2008. Disponível em: <https://casperlibero.edu.br/wp-content/uploads/2014/05/Cultura-do-ouvir.pdf>. Acesso em: 04 set. 2016<br><br>O ATO de Matar. Direção de Joshua Oppenheimer. Produção de Wagner Herzog. 2012. Son., color. Legendado.<br><br>ZIMBARDO, Philip. Como pessoas comuns se tornam monstros... ou heróis. 2008. (23 min.), son., color. Legendado. Disponível em: <https://www.ted.com/talks/philip_zimbardo_on_the_psychology_of_evil?language=pt-br>. Acesso em: 16 out. 2016.<br><br> </td></tr></table></body></html>