ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00325</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT06</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Da Vinci censurado</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;KELEN DAIANE FANK (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz); GUSTAVO DOS SANTOS PRADO (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz); PATRIK LEAL GARCIA (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz); ANDRESSA DOS SANTOS FERRAZ (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz); MARCO ANTONIO LORINI (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz); NATALIA BOSCHETI H. (Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;arte, nudez, censura, Leonardo da Vinci, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A ilustração intitulada Da Vinci censurado é uma proposta que procura fazer com que o observador reflita de forma crítica com relação aos desdobramentos recentes que envolvem a censura e a raiva com a arte e a performance que usam a nudez. Para tanto foi usado o Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, desenho o qual o grupo fez uma apropriação para problematizar a onda de intolerância que a arte sofre no Brasil contemporâneo.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O trabalho Da Vinci censurado foi apresentado na disciplina de História da Arte, que é ofertada para os egressos no Curso de Design Gráfico, do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. Com a matéria, os alunos discutem os desdobramentos históricos das diversas artes produzidas pelo homem: pintura, escultura, arquitetura, música e a trajetória do ofício do designer. (MEGGS; PURVIS, 2009). Como as discussões em sala são guiadas pelo presente, à época, a arte brasileira sofria com perseguições, censuras e críticas por causa da performance nu do artista Wagner Schwartz no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Com isso, a dinâmica do trabalho seria a de criar uma ilustração na qual os alunos colocariam o seu ponto de vista sobre o assunto, valendo-se de qualquer corrente artística vista ao longo do semestre. O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, foi escolhido pelo grupo e a arte foi apropriada (CHARTIER, 1999) com um viés crítico à onda de intolerância com relação à arte e à nudez. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A ilustração Da Vinci censurado procura utilizar um movimento artístico que expressa o humanismo, o antropocentrismo e a razão humana  caso do Renascimento  , já que a proposta entende que a crítica de setores da sociedade civil e da mídia à performance nu do artista extrapolou os limites da razão e do debate político. Ora, o Renascimento foi um dos grandes movimentos artísticos produzidos pelo homem  e ele propagou e difundiu o domínio da ciência, da arte clássica, da observação da natureza e do naturalismo. (GOMBRICH, 1999, p. 164-165). Com isso, o trabalho procura insinuar que não é censurando a arte e o artista que se revolve supostos desvios de ordem moral. Um país que se assume democrático não pode censurar o artista devido a uma performance (ZHUMTHOR, 2000) que apresenta a nudez. Daí então se procura quebrar a simetria do Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, uma vez que a ilustração desloca os braços e as mãos do personagem representado para cobrir o seu tórax e a sua genitália. Feito de forma proposital, nota-se como a desconstrução (DERRIDA, 1990) do desenho de Leonardo da Vinci quebra a aura geométrica e humanista que ele quer retratar. A montagem Da Vinci censurado desconstruiu a essência da arte do gênio renascentista  pelo simples deslocamento dos braços e das mãos cobrindo as partes íntimas. Tal proposta objetiva mostrar que a intolerância e a ignorância geram distorções interpretativas da arte e do artista  que em regra deve ser apreciada, compreendida e problematizada, pois sintetiza uma determinada época.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A nudez sempre pode despertar uma espécie de emoção alimentada por sentimentos eróticos. O interesse que a arte tem pela nudez é complexo; uma vez que em tal proposta artística converge "todos os instintos elementares, todas as pulsões obscuras, assim como todos os subterfúgios e todo o sucesso da sublimação" (GALARD, 2009, p. 39). Impulsionada pelo modelo estético grego, a nudez sempre foi reproduzida na História da Arte. O belo e o verossímil associados à nudez circularam (BAKTHIN, 2007) com frequência por vários personagens sacros, mitológicos ou humanos. Por mais que se presenciou uma diminuição desse tipo de reprodução no mundo medieval  pois nessa época a Igreja Católica assumiu as rédeas da cultura  , durante o Renascimento houve um novo impulso à exposição da nudez  uma vez que o Renascimento valoriza a estética grega (GOMBRICH, 1999). Contudo, na época do Renascimento, o objetivo não era externar a nudez nutrida por um sentimento pudico  uma vez que a arte assumiu historicamente uma característica de subversão e quebra de paradigmas. Dito de outro modo, ao reproduzir a nudez, a arte renascentista valoriza a coragem, a temperança, a inocência, a graça, o pecado, a queda, o bem e o mal. (GALARD, 2009). É com essa leitura que se entende a proposta do artista Wagner Schwartz. No final de setembro de 2017, ele abriu a 35º Panorama de Arte Brasileira no Museu de Arte Moderna  um dos mais respeitados do país. Sua performance foi cunhada de La Bête (O Bicho)  uma releitura das esculturas de Lygia Clark. Ele tinha apresentado a performance mais de dez vezes no Brasil e na Europa (EL PAÍS, 2018) O público deve ser participante do processo artístico  por isso cada apresentação é diferente. Em sua reinterpretação, Schwartz manipula uma réplica de plástico de uma das esculturas de Liga Clarck. O objeto "permite a articulação de diferentes partes do seu corpo através das dobradiças" (SCHWARTZ, 2017). A partir desse momento, o público é que "conta uma história criada coletivamente, ao manipular o corpo nu do artista como se ele fosse uma das figuras geométricas com dobradiças de Lygia Clark" (EL PAÍS, 2018). A foto de uma criança encostando na perna do artista gerou revolta e ira nas redes sociais, impulsionada pelos seguidores do Movimento Brasil Livre  que assumiu um papel de destaque devido ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. O descompasso entre a proposta do artista e a repercussão negativa foi homérico. Wagner foi acusado de pedófilo. Uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) conduziu coercitivamente o artista. O curador do Museu de Arte Moderna, Felipe Chaimovich, sofreu uma série de retaliações. Logo, o discurso da moralidade veio à tona. A bancada conservadora do Congresso colocou em discussão uma censura prévia à arte  algo impensável em um país que alega ser democrático. Wagner Schwartz não teve sua arte compreendida  ele foi utilizado como mote para alimentar uma onda conservadora que paira sobre o país. Outros museus também sofreram com censuras  vide o "Queermuseu", que financiado pelo Banco Santander, foi forçado a deixar de exibir a sua arte. Vive-se uma era de hibridismos culturais em tempos de globalização econômica (CANCLINI, 2000). A arte continuará sendo mutável por meio de inúmeras reapropriações. Logo, a reação de setores da sociedade brasileira ao trabalho do artista é descabida e exagerada. Por isso, acredita-se que a ilustração tenha relevância ao fazer uma crítica à censura e à arte com nudez, tomando como base um dos grandes ícones da arte, Leonardo da Vinci, e uma de suas obras, o Homem Vitruviano. Faltou o uso da razão nas manifestações contra a performance de Wagner Schwartz.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Como a ilustração é "entendida como uma arte visual que produz imagens para comunicar uma informação concreta a partir de um conteúdo descritivo ou analítico" (CAVALCANTE, 2010, p. 37)  optou-se por fazer a montagem da crítica à onda conservadora à arte com nudez, valendo-se desse tipo de arte visual. A ilustração é um tipo de arte que dá liberdade para o ilustrador se expressar e colocar em prática a sua criatividade. A ilustração atiça perguntas ao leitor  o que permite o questionamento para outras interpretações e abre o leque para outras problematizações. Espera-se que com a ilustração o observador tenha um ponto de partida para novas realidades e leituras do mundo ao redor  aumentando a perspectiva da consciência, da cultura, do meio e da história. (NANINI, 2007, p. 12-14) Além disso, seguindo as propostas de Nathalia Cavalcante, partiu-se de "uma visão integrada entre ilustração, o design gráfico e a artes visuais" não se limitando a um produto em si, mas a um processo de trabalho (2010, p. 38) O primeiro passo foi desenvolver uma leitura sobre as relações entre arte e nudez. A proposta de Jean Galard (2009) foi fundamental para que o trabalho avançasse do ponto de vista teórico. Posteriormente, procurou-se matérias de jornais e revistas que expressavam diferentes visões em torno da polêmica da performance La Betê, de Wagner Schwartz. Analisando os diferentes pontos de vista e alertados por Ernst Gombrich (1999) sobre a importância do Renascimento, que por muitos é considerado o ápice da perfeição humana, optou-se pelo Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci, por sua memória histórica de liberdade e antropocentrismo. Além disso, um ponto importante para a escolha foi porque a arte está em formato de desenho  ou seja, não é uma pintura em tela  , e que ela apresenta o nu frontal (padrão que vem desde o mundo grego e que o Renascimento tanto valora). O descarte de pinturas como é o caso de Leda  que Leonardo da Vinci pintou a personagem em nu frontal abraçada por Zeus que veio até ela em formato de um cisne  , foi uma escolha teórica e técnica, visto que os partícipes do grupo são de primeiro período e sentiram o receio de criar uma ilustração apropriando-se de uma pintura tão complexa. Ademais, a mitologia presente na tela  que faz alusão à narrativa de Leda  , deveria ser desenvolvido com outros recortes (tais como a filosofia e a narrativa mítica), que um curso de História da Arte focado no Design Gráfico não teria condições de problematizar em sua plenitude. Com as leituras, partiu-se para a parte de montagem da ilustração, que começou com a pesquisa da imagem a ser trabalhada. Criaram-se esboços em papel vetorizados pelo programa Adobe Illustrator. A ilustração Da vinci censurado foi finalizada com o programa Adobe Photoshop.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A ilustração final foi resultado de um processo que envolveu pesquisa, extensão, ousadia e técnica  fundamental para o ofício do designer gráfico. O grupo pegou o desenho, fez a montagem e elaborou vários esboços em cima da imagem da obra de Leonardo da Vinci Homem Vitruviano, que foi adquirida em alta qualidade pelo banco gratuito de imagem Pixabay. A partir daí se modificou a posição dos braços e das mãos fazendo com que o personagem representando cobrisse o nu frontal. Após tal procedimento, usou-se o escâner para passar o esboço final para o computador. O grupo pegou a imagem escaneada, abriu o Illustrator e fez a vetorização dos novos traços a serem aplicados utilizando a ferramenta caneta. O arquivo foi salvo em formato AI. O próximo passo foi abrir a imagem no programa Photoshop. O grupo fez a remoção dos braços originais com a ferramenta pincel de recuperação, que removeu os braços, mas manteve o fundo da imagem. O arquivo AI foi atribuído ao Photoshop com a imagem e foi posicionado de forma adequada. Em seguida, se utilizou para dar os detalhes de cor a ferramenta carimbo, pegando os detalhes de determinados pontos e atribuindo os braços (desde os tons de papel envelhecido até os tons dos traços de imagem). Por fim, os acadêmicos finalizaram os pormenores dos músculos com a ferramenta pincel. Como resultado final, o grupo criou uma ilustração que faz uma crítica enfática à censura à arte que usa a nudez, uma vez que o Homem Vitruviano ficou com as mãos sobre a região do tórax e a genitália. O deslocamento das mãos e dos braços tirou a simetria do desenho e questionou a ideia de razão da arte. Ao final, a ilustração aparenta que o Homem Vitruviano aparece envergonhado, tímido e censurado  sentimentos similares aos quais o artista Wagner Schwartz provavelmente deve ter tido depois do ocorrido. Com a montagem, o Homem Vitruviano perde sua aura racional; sua face apresenta desconforto; seu corpo fica preso nele mesmo e o antropocentrismo ganha um simbolismo de declínio. Tal proposta crítica alinha-se à perspectiva segundo a qual a arte não pode ser censurada e que os sentimentos de ódio ao artista foram resultados de uma ação desleal, agressiva, violenta e acrítica de uma parcela reacionária da sociedade  corroboradas por setores da mídia que supostamente defendem a ideia de liberdade.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">O trabalho Da Vinci censurado permitiu ao grupo perceber como a arte, a nudez e o artista estão envolvidos em relação de poder com o meio social. Não há mal algum em setores da sociedade civil não gostarem da arte de Wagner Schwartz. O debate estético é importante para o desenvolvimento da arte e da própria sociedade. Por sinal, foi por isso que a arte se desenvolveu e seguiu adiante. Contudo, em tempos que é necessário dizer o óbvio, o grupo acredita que a censura à arte corrói a própria arte, gera uma raiva sem medida e provoca impasses para a consolidação da democracia no país  que carece historicamente de uma experiência democrática mais ampla. A ilustração deu condições aos integrantes do grupo de perceber o mundo em que eles se situam, os dilemas do presente e a leitura crítica dele. Logo, os criadores da ilustração Da Vinci censurado sentiram-se sujeitos de sua própria história.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BAKTHIN, Mikhail Mikhailovich. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. <br><br>CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. Tradução de Heloísa P. Cintrão e Ana Regina Lessa. 2ª ed. São Paulo: Edusp, 2000. <br><br>CAVALCANTE, Nathalia Chehab de Sá. Ilustração: uma prática passível de teorização. Tese de doutorado (Artes e Design), Rio de Janeiro, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 2010. <br><br>CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Tradução de Maria Manuela Galhardo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1990.<br><br>DERRIDA, Jaques. Posições: Tradução de Maria Margarida Correia Calvente Barbosa. Lisboa: Plantanto Editora, 1972.<br><br>El Pais. Fui morto na internet como se fosse um zumbi da série The Walking Dead. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/12/opinion/1518444964_080093.html. Acesso em 6/4/2018. <br><br>GALARD, Jean. Como o nu apareceu na pintura. Revista Discursos, 2009, p. 9-24. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/discurso/article/download/68261/70973. Acesso em 6/4/2018. <br><br>Goethe Institut (Salvador  Bahia). Disponível em: http://www.icencontrodeartes.com.br/ic11/obra/la-bete-o-bicho. Acesso em 7/4/2018. GOMBRICH, Ernst H. A história da arte. 16ª ed. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: LCT, 1999. <br><br>MEGGS, Philip B; PURVIR, Alston W. História do Design Gráfico. Tradução de Cid Knipel. São Paulo: Cosac Naify, 2009. <br><br>NANNINI, Priscilla Barranqueiros Ramos. Ilustração: um passeio pela poesia visual. Dissertação de Mestrado (Artes Visuais), Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2007.<br><br>ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção e leitura. Tradução de Jerusa Pires Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: Educ, 2000.<br><br> </td></tr></table></body></html>