ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00123</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO11</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Deus foi dormir: histórias de vida da favela Cidade de Deus</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Iago Porfírio (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul); Edson Silva (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Narrativas, Direitos Humanos, Cidade de Deus, Deus foi dormir, Livro-reportagem</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O trabalho apresenta o Projeto Experimental que resultou no livro-reportagem Deus foi dormir: histórias de vida da favela Cidade de Deus, desenvolvido no curso de Comunicação Social/Habilitação em Jornalismo na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). O trabalho tem como foco de abordagem a violação dos Direitos Humanos fundamentais dos moradores da Cidade de Deus em Campo Grande, Mato Grosso do Sul.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este paper apresenta o livro-reportagem Deus foi dormir: histórias de vida da Favela Cidade de Deus, resultado de pesquisa do Projeto Experimental do Curso de Comunicação Social/Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Como parte final da consolidação do Projeto, além do livro com 140 páginas, está o Documento de Pesquisa, com 460 páginas, que compõe a plataforma informativa e sistematização da pesquisa desenvolvida. Defendido em agosto de 2017, o projeto/livro foi aprovado pela banca de defesa com louvor e distinção e indicado para publicação, como consta na ata de avaliação. O paper apresenta os caminhos metodológicos até a chegada do livro, passando pela pesquisa de fôlego desenvolvida nos últimos anos até a sistematização metodológica da Pesquisa Jornalística.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A pesquisa teve como eixo central a violação dos Direitos Humanos fundamentais dos moradores da Cidade de Deus em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O objetivo foi desenvolver um livro-reportagem usando os recursos técnicos e éticos do jornalismo, especialmente da grande reportagem  considerando também o recurso estético da narrativa  , na construção de histórias de vida. Assim, o objeto transitou entre a grande reportagem, como instrumento em estudo, e a violação de direitos, ao passo que procurou desenvolver os recursos jornalísticos através da grande reportagem para dar visibilidade a situações sociais urgentes. O Projeto teve como objetivo estabelecer um diálogo com o Jornalismo Literário na construção de histórias de vida, utilizando os métodos da narrativa da grande reportagem, recursos da história oral, perfil jornalístico e do livro-reportagem, de modo a criar uma linha interpretativa sobre o processo histórico de formação de favelas, com a reconstrução das histórias e cotidiano da favela através da memória de seus moradores em narrativas do reportagem romanceada.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Aprofundar reflexões sobre o jornalismo de imersão pode trazer uma contribuição do papel do livro-reportagem para a sociedade, uma vez que são aprofundados temas em extensão e intensão narrativas, em um nível de análise sociológica e estética narrativa. Durante minha trajetória no curso de Comunicação Social/Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso Sul (UFMS), uma grande reportagem, intitulada ironicamente Trabalho que empobrece, desenvolvida para o jornal laboratório Projétil, Edição 84 sobre trabalho infantil , protagonizada por histórias de meninas adolescentes que trabalham desde cedo e na perspectiva da violação de direitos de crianças e adolescentes, prospectou a necessidade de debater a questão da desigualdade social e dos direitos sociais garantidos pela Constituição Federal e que, no entanto, são violados na Cidade de Deus, onde duas histórias da referida reportagem ganham força narrativa. Não somente por isso, a "iniciativa individual", portanto, nasce pelo fato de ter a minha trajetória de vida também em favelas, pois, com certas ressalvas à minha situação biográfica  também aboradada na parte final da narrativa do livro  , nasci na periferia de São Paulo e, tal como aconteceu na Cidade de Deus, minha família e eu fomos despejados pela Defesa Cilvil do Estado de São Paulo, à época.omos despejados pela Defesa Cilvil do Estado de São Paulo, à época.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O uso dos elementos da Literatura aplicados ao jornalismo de imersão cria um binômio ainda em processo de investigação , uma fenomenologia que ganha fôlego nas grandes reportagens. Nesse sentido, José Salvador Faro (1996), ao estudar sistematicamente a profundidade, sociologia e busca pela compreensão das complexidades do cotidiano presente nos textos da revista Realidade, considera que a natureza da reportagem possibilita ultrapassar "os limites impostos pelos padrões de conteúdo e de linguagem da objetividade informativa". Se assim for, como entendemos, portanto, a grande reportagem preenche os vazios deixados pelo jornalismo convencional. Ao mesmo tempo em que procura ampliar e contextualizar fatos para compreender o presente, no entanto, esse propósito da grande reportagem "escapa muitas vezes ao jornalismo cotidiano e ganha cada vez maior guarida no livro-reportagem" (LIMA, 2009, p. 80). Assim, é no livro-reportagem que os fatos, situações e complexidade do contexto social são ampliados e aprofundados de maneira tal que preencham as lacunas deixadas por esse jornalismo convencional. Essa ampliação e profundidade se dão a partir da pesquisa jornalística, a base para uma narrativa de fôlego, como veremos adiante. O nascimento do livro-reportagem [romance-reportagem] no Brasil, de acordo com Rildo Cosson (2001), se deu através de duas fronteiras: o cenário político e opressor dos anos 70, no auge do Regime Militar, e, por outro lado, a aplicação do modelo do romance de não-ficção norte-americano, surgido nos Estados Unidos com A sangue frio, de Truman Capote. Assim, foram definidas as tarefas iniciais para o levantamento e análise das sinopses construídas e, tendo como base as já previamente escolhidas, seguimos para a construção de roteiros geral e específicos para entrevista semiestruturada. O roteiro geral foi estruturado com perguntas que tiveram como base a observação direta e a pesquisa documental. Este roteiro teve também como suporte as legislações sistematizadas, tais como Constituição Federal 1988, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Estatuto do Idoso, entre outras normativas. Já o específico, teve um lastro na sinopse de cada personagem. Cada entrevista foi organizada, sistematicamente, em arquivos diferentes: arquivo original; entrevista matriz (texto editado); texto síntese construído a partir das ideias pinçadas da entrevista matriz; texto descritivo da entrevista a partir das anotações (cenário, pessoas, objetos, comportamento físico ou psicológico, roupas, gestos, como fala, etc.); fotos (texto visual) e vídeo e/ou áudio gravado. Feito isto, construímos o desenho do livro e a estratégia de construção da narrativa. Essa sistematização da pesquisa, atrelada a metodologia e técnicas da grande reportagem, possibilitou a construção da narrativa do livro envolta a uma reportagem romanceada, não perdendo o foco na realidade e na narrativa jornalística. O Documento de Pesquisa apresenta resultados da pesquisa do Projeto Experimental Cidade de Deus: histórias de uma favela (quase) invisível, em que se destacam o tema da malandragem, da boêmia, das personagens lavadeiras, catadores, dando espaço à arraia miúda e ao drama humano, na condição de discutir a violação de direitos humanos. Como metodologia, no primeiro momento, o trabalho seguiu os fundamentos da Pesquisa Jornalística, como fontes documentais, fontes pessoais e observação direta, de maneira a criar um documento de pesquisa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Deus foi dormir pode, em uma ligeira leitura deste título, soar como uma blasfêmia, não o é, portanto. Carrega uma ironia tanto quanto seus personagens que carregam na pele o estigma de exclusão e marginalidade. É irônico, pois deixa ao leitor, já no título, à vontade para fazer uma reflexão das mazelas humanas. Deus foi dormir: histórias de vida da favela Cidade de Deus, retrata em uma narrativa romanceada através de um narrador que atua como cinematógrafo da realidade cotidiana da favela Cidade de Deus. Os barracos aparecem em meio à vegetação. Ao fundo, o aterro sanitário da cidade, de onde vem grande parte dos materiais que serviram para construir os casebres e também os sonhos de uma moradia. O bairro periférico é o Dom Antônio Barbosa. Na primeira parte, estão construídos os capítulos que narram o processo de formação da favela, são eles: O início, que apresenta as personagens e como se deu a formação da favela, desde as construções de barracos a conflitos e laços comunitários, além do contexto político-social em 2016. O segundo capítulo, Do luxo ao lixo, é voltado para o lixão (aterro sanitário Dom Antônio), localizado no perímetro da favela. O título está ligado à história de uma das personagens (Celsinho) que, ao voltar de Portugal, foi trabalhar no lixão. É nome de uma letra de música que a ele foi dada e, depois disso, o encorajou a escrever sobre a situação da periferia, em especial a Cidade de Deus. O terceiro capítulo desta primeira parte, As lavadeiras da Cidade de Deus, abordada a questão da água como bem humano e direito universal, o acesso a ela e os conflitos decorrentes de sua escassez. O título remete a uma bica que existia na Cidade de Deus e que serviu por muitos meses como fonte para os moradores, e também como espaço de lazer e diversão nos finais de semana. O quarto e último capítulo da primeira parte, A história de Porquinho, perpassa a história central de uma personagem que era conhecida na favela por entender de ligações clandestinas de energia elétrica. Um episódio, no entanto, marca a vida de todos, mais que a disputa pelo espaço e permanentes conflitos entre moradores e a concessionária de energia, que é quando Porquinho, em uma de suas religações, sofre um acidente que o deixa com o braço amputado. A segunda parte do livro-reportagem trata do cotidiano da Cidade de Deus e as histórias dos dramas humanos vividos, o quinto capítulo que compõe a sua estrutura, O Parquinho, aborda a vida comunitária da favela, dando ênfase às rotinas diárias dos moradores e suas histórias. Em especial, é narrada a história do Parquinho, única área de lazer construída por uma personagem, com restos materiais recicláveis e sobras de madeiras, tal como os barracos. Já no sexto capítulo, Favelado não tem vez, é feita abordagem sobre as condições precárias em que vivem os moradores da Cidade de Deus, como o difícil acesso à saúde pública, moradores tendo que ocultar o endereço para não sofrer o estigma de favelado ou favelada. O último capítulo desta segunda parte, Ventania nos barracos da Cidade, o tema central é a falta de estrutura física dos barracos, versando sobre os rotineiros incêndios, pegando o principal caso deles, em que oito barracos foram queimados de uma única vez. A terceira e última parte de Deus foi dormir é composta por dois capítulos, que procuram abordar o processo de remoção dos moradores, assim como a situação atual e criação de outras favelas inabitáveis a partir da Cidade de Deus. Cidade Partida, oitavo capítulo, traz a transferência dos moradores na centralidade da narrativa, abordando todo o processo, dia a dia, a divisão das famílias por cores. Cada cor tinha uma área destinada da cidade para onde iria a família marcada, o direito à moradia negado aos solteiros da favela, o não respeito aos idosos e crianças, e também a ocupação da polícia durante esse período . É importante ressaltar, contudo, que durante o processo de construção da pesquisa foi discutida uma previsão do que estava sendo a desconstrução do movimento favelista, ou seja, tranformar a favela Cidade de Deus em outros núcleos de favelas, levantando a tese da pulverização. Portanto, é prova de que o poder público agiu pela negligência e depois, da mesma forma, pela imposição de uma estratégia de desmobilização de uma comunidade organizada, mapeando e dividindo as famíalias por cores, negando aos solteiros o direito à moradia e colocando as famílias em diferentes regiões da cidade  em situações piores comparadas as que viviam, como foi constatado . O último e nono capítulo, Despejo da favela, narra o fracassado projeto das casas habitacionais, entregues em precárias condições, assim como o surgimento das outras favelas a partir da Cidade de Deus e a resistência pela luta e garantia dos direitos dos moradores, estabelecendo um eixo de diálogo com a história da favela no Brasil.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A favela Cidade de Deus é um enorme quarto de despejo, que revela a segregação, as desigualdades e, sobretudo, as violações de direitos. O despejo a que foram submetidas as famílias criou o fenômeno da pulverização, dando lugar ao surgimento de outras favelas, deixando claro, contudo, a ausência de políticas públicas habitacionais. Assim, demonstra a importância e necessidade de um jornalismo imersivo com foco no social. Nesse sentido, não caberia a este artigo concluir as reflexões do Projeto Experimental.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BORGES, Rogério. Jornalismo literário: Análise do discruso. Série Jornalismo a Rigor. V.7. Florianópolis: Insular. 2013.<br><br>COIMBRA, Oswaldo. O texto da reportagem impressa: um curso sobre sua estrutura. São Paulo: Editora Ática, 1993.<br><br>COSSON, Rildo. Romance-reportagem: o gênero. Brasília: Editora UnB: 2001.<br><br>FARO, José Salvador. Realidade, 1966-1968: tempo da reportagem na imprensa brasileira. Tese Doutorado. ECA-USP, 1996.<br><br>LIMA, Edvaldo Pereira. Páginas Ampliadas: O livro-reportagem como extensão do jornalismo e da literatura. Barueri, SP: Manole, 2009.<br><br>PORFÍRIO, Iago. A gênese da Favela Cidade de Deus, em Campo Grande, MS, e a violação dos Direitos Humanos. Trabalho apresentado no XIX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Centro Oeste, realizado de 12 a 14 de junho de 2017. Disponível em: http://portalintercom.org.br/anais/centrooeste2017/resumos/R56-0061-1.pdf. Acesso em: 10. abril.2018<br><br>PORFÍRIO, Iago. Deus foi dormir: histórias de vida da favela Cidade de Deus. São Paulo: Edições Terceira Via, 2018.<br><br>PORFÍRIO, Iago. Favela Cidade de Deus: histórias de vida em técnicas narrativas do romance-reportagem. REVISTA ARANDU (DOURADOS), v. 21, p. 53-65, 2018.<br><br>PORFÍRIO, Iago. Cidade de Deus: histórias de uma favela (quase) invisível. Documento de Pesquisa. Campo Grande: Faculdade de Artes, Letras e Comunicação (FAALC/UFMS), 2017, 460 páginas. <br><br> </td></tr></table></body></html>