ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00125</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO05</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Educação para as relações raciais: Quadro Enegrecer</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Lethycia Santos Dias (Universidade Federal de Goiás); Bruno Souza Destéfano (Universidade Federal de Goiás); Ludmila Pereira de Almeida (Universidade Federal de Goiás); Maria Flora Ribeiro Costa Medeiros (Universidade Federal de Goiás); Mariza Fernandes dos Santos (Universidade Federal de Goiás)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Educação, Relações raciais, rádio, resistência, enegrecer</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O quadro "Enegrecer" foi criado na disciplina de laboratório orientado para a revista radiofônica Matéria Prima, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), em 2017/2. O quadro passou a integrar a programação da revista, produzida e apresentada por estudantes do curso, com orientação da Professora Flora Ribeiro e das doutorandas em estágio-docência Mariza Fernandes dos Santos e Ludmila Pereira de Almeida. O objetivo foi verificar a possibilidade de uso do rádio e das diversas plataformas às quais ele pode se articular como instrumento para a educação para as relações étnico-raciais. Nesse sentido, partiu-se do entendimento de que, ao formar jornalistas que se posicionem politicamente sobre temas que atingem a maioria da população, estamos (re)educando a nós mesmos e à sociedade sobre a importância de abordagens afirmativas insubmissas ao fazer jornalístico objetivo.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O quadro "Enegrecer", foi criado na disciplina de laboratório orientado Matéria Prima, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Goiás (UFG), no segundo semestre de 2017. O quadro passou a integrar a programação da revista radiofônica em questão, produzida e apresentada por estudantes, com orientação da Professora Flora Ribeiro e das doutorandas em estágio-docência Mariza Fernandes dos Santos e Ludmila Pereira de Almeida. O objetivo foi verificar a possibilidade de uso do rádio e das diversas plataformas às quais ele pode se articular como instrumento para a educação sobre as relações étnico-raciais (BORGES, 2017). O objetivo não foi o de apenas evidenciar, mas também discutir e questionar as noções de raça, os espaços sociais de prestígio, as interseccionalidades de subalternização, a situação das mulheres negras, as masculinidades negras, as produções literárias dessa parcela da população, entre outros assuntos que exigem um tratamento que nos desloque do lugar de conforto. A iniciativa foi pautada pela compreensão de que a educação para as relações étnico-raciais é uma ferramenta na luta anti-racista, conforme proposto por Borges (2017). Além do foco nas relações étnico-raciais, estendemos a abordagem elaborada pela autora para uma proposta de articulação entre comunicação e educação que colabore para um tratamento responsável de outros dos chamados "temas da diferença", a exemplo de gênero e sexualidade. Partindo do entendimento de que, no que diz respeito aos seres humanos, a noção de raça é uma construção social e não biológica, Borges (2017) propõe que é possível politizar e ressignificar a ideia de raça, e que isso tem sido feito há décadas pelo Movimento Negro. Um exemplo no campo midiático é a chamada Imprensa Negra, forma como ficou conhecido o grande volume de jornais produzidos pela população negra brasileira no período pós-abolição.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo geral do quadro "Enegrecer" articula-se em dois níveis. No primeiro, está o uso do rádio como instrumento para, conforme propõe Borges (2012), elaborar e veicular novos códigos identitários para representar a população negra nos meios de comunicação. Nesse sentido, as produções foram pautadas pela intenção de romper com estereótipos sobre a população negra e elaborar um novo repertório de pautas sobre o tema, tendo em vista a crítica apresentada por Ferreira (2004, p. 22) após realizar uma pesquisa sobre a representação do negro em jornais brasileiros diante do crescimento do Movimento Negro, e consequentemente, do debate sobre relações raciais: "A postura da imprensa frente a todas estas mudanças políticas tem sido bastante oscilante. Ora a imprensa avança na discussão, outras vezes fica num discurso superficial e inócuo". O pesquisador entende que parte dos problemas de representação dos negros na mídia tem a ver com o fato de que "o jornalista faz, mas nem sempre sabe porque faz" (Ibid., p. 25). Nesse ponto, localiza-se o segundo nível de objetivos do quadro "Enegrecer", qual seja, formar jornalistas preparados para atender à demanda, cada vez mais intensa, de cobertura jornalística sobre os segmentos sociais pouco representados social e politicamente na sociedade. Na análise de Ferreira (2004), a mudança nos discursos midiático sobre a população negra só pode ocorrer se os cursos de jornalismo assumirem o desafio de preparar jornalistas conscientes de que não são meros narradores de fatos, e sim "reelaboradores de realidades" (Ibid, p. 26). Ao articular esses dois níveis de objetivos, aceitamos o desafio de educar a nós mesmos e aos nossos ouvintes, leitores e seguidores para as relações étnico-raciais.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A importância desse quadro dentro de um espaço institucional e educativo se deu ao observarmos a necessidade prática e democrática de aplicação da Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Africana e Afro-Brasileira nas escolas. A inclusão de temas pertinentes a esse assunto fez com que repensássemos o quanto, dentro da própria universidade, a implantação da Lei ainda é precária, o que evidencia o quanto esse espaço de prestígio, onde os negros historicamente são minoria (CARVALHO, 2003), ainda constrói múltiplas barreiras para a população negra. Uma das principais pautas dos estudos centrados em perspectivas diferentes da dita ciência eurocêntrica - aquela em que a cultura europeia e todo o conhecimento advindo do continente europeu são considerados precursores do desenvolvimento humano (SANTOS, 2017), desconsiderando-se o fato de que outras regiões do mundo também elaboraram diversos conhecimentos - é o debate sobre quem tem o poder de falar. Um clássico no campo dos chamados estudos subalternos, que visam estabelecer novas formas de construção do conhecimento, é o livro "Pode o subalterno falar?", da teórica indiana Gayatri Spivak (2010). A autora propõe que uma das estratégias para se romper com a subalternidade é criar mecanismos para que o os sujeitos falem e sejam ouvidos. O jornalismo se apresenta como uma ferramenta interessante nesse contexto. Conforme apontado por Borges (2017), a tecnologia é uma das principais marcas de nossa época e, nesse campo, associar educação e comunicação é uma proposta que pode oferecer possibilidades de ação e transformação. Com uma perspectiva insubmissa e que questiona o rótulo de "democracia racial" atribuída ao Brasil, o caráter inédito do "Enegrecer", dentro da programação do Matéria Prima, trouxe a questão racial como pauta cotidiana e não apenas como um tema a ser tratado somente no Dia da Consciência Negra. Isso fez com que a equipe expusesse angústias pessoais/coletivas, experiências do que é ser negra/o no Brasil, como isso afeta nossa fala e vivência, o que também possibilitou ao "Enegrecer" tratar das temáticas sem deixar de considerar a subjetividade. Tal posição política, assumida coletivamente pela turma, sofreu, em determinadas ocasiões, embates institucionais que questionavam o perfil educativo do programa. Um dos momentos foi em relação às músicas tocadas durante o "Enegrecer", que eram compostas por cantores negras/os e que abordavam outra forma de ler o mundo e falar dele, como ocorre nitidamente com o gênero Hip Hop. Este estilo, ao trazer palavras que contrariam a lógica e o ato educativo tradicional, que se pauta pelo mito do politicamente correto - a falsa ideia de que apenas não se usar palavras ofensivas faz com que outras práticas de ofensa não ditas sejam vistas como normais - , usa de "palavrões" e gírias e expõem as mazelas sociais. O que pode causar incômodo à norma, isso já era esperado e desejado, por isso, a direção da Rádio Universitária sugeriu retirar tais músicas da programação ou mudar a classificação etária do programa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Com o advento de plataformas digitais, a estrutura do fazer radiofônico foi gradativamente modificada. O seu modo de funcionamento ganhou novos horizontes de interações e estratégias amparadas pela potencialidade da Internet (CORDEIRO, 2004). O programa laboratorial Matéria-Prima se ampara em outras mídias, além do rádio, para intensificar o alcance das produções e, a partir disso, construir novos conteúdos. Transcrição do material veiculado e matérias on-line, tanto em site quanto em redes sociais, foram instituídas para estender a radiocomunicação a diversos públicos e em diferentes contextos interacionais. Sem contar o podcast, que é uma forma de transmissão de arquivo de áudio pela plataforma web (LEMOS, 2006). Tudo isso com um objetivo-mor: ampliar as complexas redes de histórias narradas perante um microfone, em meio à aparelhagem de áudio, enquanto o letreiro "no ar" está aceso, para um alcance além do rádio. Foi nesse contexto e a partir de uma necessidade de se criar alternativas aos discursos hegemônicos que hierarquizam nossa sociedade e invisibilizam a maioria da população brasileira, que o quadro/seriado "Enegrecer" foi pensado. O programa Matéria Prima é, atualmente, veiculado ao vivo, aos sábados pela manhã. Logo após a apresentação da revista radiofônica, os estudantes que compõem a equipe se reúnem com a professora coordenadora para discutir o que será apresentado na edição seguinte. Todos têm liberdade e autonomia para sugerir pautas que considerem relevantes e de interesse público. Na primeira reunião com a turma 2017/2, ficou evidente a necessidade de um quadro voltado exclusivamente para debater as questões raciais em um país que tem o racismo como estruturante nas relações sociais (RIBEIRO, 2014). O quadro surgiu com a proposta de abordar as relações étnico-raciais sob várias perspectivas. A complexidade dos temas tornou necessária a produção seriada. O nome "Enegrecer" foi escolhido como posição política face ao uso e significado do termo "esclarecer" (A mudança no vocabulário é uma das formas adotadas por segmentos do Movimento Negro para promover uma comunicação anti-racista. A ideia de "esclarecer" como forma de dizer que vai tornar algo mais compreensível forma-se a partir da oposição à ideia de "obscuro". Esta prática tem como pano de fundo a diferenciação binária entre "claros e escuros", baseada na diferença socialmente construída que hierarquiza negros e brancos). Com a criação de uma vinheta, o quadro foi ao ar pela primeira vez em 16 de setembro de 2017, apresentando ao ouvinte várias compreensões sobre o conceito de raça. Entendemos que só seria possível atender aos objetivos do quadro se estivéssemos munidos de leituras e discussões anteriores sobre o tema. Por isso, os debates entre a equipe começavam logo na reunião de pauta e, em seguida, os responsáveis pelo programa pesquisavam e organizavam como seria o quadro naquela semana, sempre em diálogo com todo o grupo do Matéria Prima, entendendo que assim o conhecimento se daria de forma compartilhada. Essa forma de trabalhar o ato comunicativo sem o viés comercial, pautando aspectos de interesse social que tange aos âmbitos políticos, sociais, culturais, históricos e, sobretudo, com uma decisão coletiva das pautas, é chamada de compartilhada (STEPHANSEN, 2010). Isso contrapõe às práticas egoístas e competitivas que regem nossas relações sociais ao buscarmos um processo de construção de conteúdos para a abordagem jornalística por meio de ações solidárias e de trocas entre os envolvidos para, então, desaguarmos o produto junto à comunicação radiofônica. Os episódios foram apresentados ao vivo e compostos por entrevistas, backgrounds (BGs), sonoras e conteúdos pautados pela elaboração de novos códigos identitários para a representação da população negra. O quadro era baseado em um texto produzido pelo repórter para situar o ouvinte a respeito do assunto abordado naquele dia. Após o breve texto introdutório, temos um resumo sobre quem é a convidada/o a ser entrevistada/o, geralmente um especialista no assunto, mas o requisito era trazer alguém engajado, que vivenciava o assunto e que se disponibilizasse a participar. O título acadêmico não era regra.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A série "Enegrecer", essencialmente de entrevistas, foi idealizada e posta em prática na terceira edição do programa, no dia 16 de setembro de 2017. Os episódios tiveram em média 20 minutos de duração e foram ao ar até a última edição Matéria-Prima do ano, datado em 9 de dezembro de 2017. Ao todo, 12 episódios foram transmitidos ao vivo, sendo posteriormente disponibilizados em formato podcast no site do Matéria Prima (2017), integrando a edição completa do programa correspondente. No primeiro episódio, o termo "raça" foi o principal tema discutido com Poliana Dourado, pesquisadora de relações raciais no Brasil e estudante de biblioteconomia da Universidade Federal de Goiás. Além do uso biológico-científico e social da expressão, também foi feito um percurso histórico para entender a raça como uma categoria etno-semântica, tendo em vista a estrutura de poder em cada sociedade (MUNANGA, 1990) que, por sua vez, fundamenta e naturaliza o próprio racismo. O episódio 2 focou em problematizar os diversos aspectos do racismo dentro das relações de trabalho doméstico no Brasil, pois "a ocupação é majoritariamente empregada por mulheres e negras" (IPEA, 2011, p. 4) e somente em 2015 foi promulgada, pela Proposta de Emenda Constitucional 72, a Lei Complementar nº 150 que assegura formalmente os direitos trabalhistas básicos aos empregados domésticos. A entrevistada foi Maria Rosa, de 68 anos, uma mulher negra que trabalhou durante 30 anos em um ambiente marcado pela informalidade e por propostas abusivas. No dia 30 de setembro, em edição especial com o tema "resistência LGBT" devido ao dia da visibilidade bissexual (23/09), o terceiro episódio contou com a explicação sobre o conceito de interseccionalidade. Em entrevista concedida para o quadro, Ionara Rabelo, Doutora em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e pesquisadora de estudos focados em violência e gênero, falou sobre as estruturas de opressão que atuam sobre um mesmo corpo. Os episódios quatro e cinco abordam cotas raciais nas universidades públicas e ensino da cultura negra nos livros de história, respectivamente. O sexto teve enfoque na 4ª. Conferência Municipal de Promoção da Igualdade Racial, com uma entrevista com Ana Rita (Informação verbal), Secretária Executiva do evento. A Doutora em Comunicação Social pela Universidade de Brasília (UnB), Ceiça Ferreira (2017), no episódio sete, discorreu sobre o embranquecimento - o que não se remete apenas a cor de pele branca, mas ao seu significado junto à trajetória de constituição eurocêntrica de qual é o corpo padrão, belo. De forma que quanto mais próximo dos fenótipos europeus, mais a pessoa se torna embranquecida - de pessoas na mídia e a pouca representatividade negra nesses espaços. O oitavo, por sua vez, se voltou para a questão da literatura afro-brasileira e sua forma de resistir à "história oficial" eurocentrada. Afinal, como disse a bibliotecária e mestranda em Comunicação pela UFG Elisângela Gomes (informação verbal), na entrevista para o episódio, "o que nos dá poder é existir, viver a partir da ascendência africana e não daquilo que não somos". O nono episódio (18/11) também interferiu na identidade visual do programa especial, com uma nova logotipo e postagens personalizadas, voltada para as discussões raciais e o empoderamento das pessoas negras, tendo em vista o Dia da Consciência Negra (20 de novembro). A história da princesa-guerreira Aqualtune e uma produção especial sobre religiões de matrizes africanas, além de músicas que reforçam a resistência dos povos negros fizeram parte da programação. O episódio também tratou das masculinidades negras e a importância de se discutir heteronormatividade - em que a norma de sexo/desejo/gênero são orientadas pela naturalização do imperialismo hetero, atração pelo "sexo oposto" - (PINHO, 2004; BUTLER, 2003) . O psicólogo Douglas Viana (informação verbal), em entrevista para a série, ressalta que a masculinidade é tóxica por não comportar nenhum tipo de ambivalência, e a masculinidade negra "é forjada a partir de fantasias sociais sobre o homem negro que constroem o ideal de hipermasculinidade, que é uma armadilha por limitar a expressão de ser". O racismo na mídia e a violência policial contra a comunidade negra foram temas dos episódios dez e onze, respectivamente. Na última edição e, por fim, no último "Enegrecer", o diálogo girou em torno da organização do território goianiense e como isso reflete nas dinâmicas socioespaciais no espaço urbano. Vinicius Aguiar, doutor em Geografia pela UFG e pesquisador sobre conflitos socioambientais, falou sobre a desigualdade social, econômica, espacial e racial que marca a história da cidade de Goiânia.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Além das questões citadas neste trabalho, a necessidade de iniciativas como o quadro "Enegrecer" evidencia-se também quando observamos a composição racial das redações brasileiras. Uma pesquisa realizada em 2012 (Fenaj; UFSC) verificou que 72% dos jornalistas em exercício no Brasil eram brancos, 18% pardos e 5% pretos. Destaque-se que os pretos e pardos compõem mais de 50% da população brasileira e, portanto, estão sub representados no jornalismo, o que o torna uma profissão majoritariamente branca. Assim, como esperar que jornalistas adotem práticas que visem a não-perpetuação de estereótipos negativos sobre a população negra quando o tema não faz parte de seu cotidiano? Como agir democraticamente, expondo diferentes perspectivas sobre o assunto, se nem mesmo nosso próprio currículo universitário consegue trazer uma leitura crítica de nossa realidade? A resposta para estas questões, talvez, esteja no fato de que a iniciativa pioneira do quadro "Enegrecer" na Rádio Universitária surgiu após quase 10 anos da adoção de cotas étnico-raciais pela UFG (A Universidade Federal de Goiás criou, em 2008, de forma autônoma, um programa de cotas chamado "UFGInclui", o que proporcionou uma significativa mudança na composição racial da universidade e, consequentemente, dos estudantes do curso de jornalismo). Em pesquisa realizada com estudantes do curso em 2013, Santos (2014) verificou que um dos principais desafios enfrentados pelos cotistas negros era a sensação de ter que se adequar ao padrão tradicional do curso, sem que as novas experiências trazidas por esses sujeitos, historicamente excluídos do espaço acadêmico, fossem valorizadas. Nesse sentido, a proposta do quadro "Enegrecer" é também mudar esse cenário e o envolvimento dos estudantes nas atividades evidenciou a importância da iniciativa. O resultado do trabalho, que vai além das produções ao vivo, indica a relevância da inserção, no fazer jornalístico, de sujeitos oriundos das camadas marginalizadas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BORGES, Rosane da Silva. Mídia, racismos e representações do outro. In: BORGES, Roberto Carlos da Silva e BORGES, Rosane. (Org.) Mídia e Racismo. Petrópolis, RJ: DP et alii; Brasília, DF: ABPN, 2012, p. 180  202.<br><br>BORGES, Rosane da Silva. Novas narrativas, educomunicação e relações raciais: um campo possível para o exercício da alteridade. Educere et Educare Revista de Educação. Vol.10 Número 20 jul./dez .2015 p. 741  753.<br><br>BRASIL. Constituição 1998. Lei Complementar nº 150, de 1º de junho de 2015. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp150.htm>. Acesso em: 06 mai. 2018.<br><br>BUTLER, J. Problemas de Gênero: feminismo e subversão da identidade. Tradução de Renato Aguiar. Civilização Brasileira: Rio de Janeiro: 2003.<br><br>CARVALHO, José Jorge de. Ações afirmativas como resposta ao racismo acadêmico e seus impactos nas ciências sociais brasileiras. Teoria e Pesquisa 42 e 43. Janeiro-julho de 2003. p. 304  340.<br><br>CORDEIRO, Paula. Rádio e Internet: novas perspectivas para um velho meio. BOCC, 2004. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/cordeiro-paula-radio-internet-novas-perspectivas-velho-meio.pdf>. Acesso em: 24 abr. 2018.<br><br>D'OLIVEIRA, M. C. ; CAMARGO, M. A. S. . Os Marcadores de Diferença 'Gênero' e 'Raça' Interseccionalizados na Afirmação Identitária. In: XIX Seminário Interinstitucional de Ensino, Pesquisa e Extensão, 2014, Cruz Alta - RS.<br><br>FERREIRA, Ricardo Alexino. Quando a imprensa branca fala da gente negra: a visão eurocêntrica da imprensa na cobertura de afrodescendentes. In. CARRAÇA, Flávio e BORGES, Rosane da Silva. Espelho infiel. O negro no jornalismo brasileiro. São Paulo: Imprensa oficial do Estado de São Paulo, 2004. p. 19  34.<br><br>GOMES, Elisângela: episódio 8 da série Enegrecer. Em: Matéria Prima, 11 nov. 2017. Entrevistadores: Gabriel Penha e Lethycia Dias. Goiânia: UFG, 2017. 1 arquivo .mp3. Entrevista concedida ao Programa Matéria-Prima da Rádio Universitária UFG. Disponível em: <http://materiaprimaufg.wixsite.com/materiaprima/podcast>. 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