ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00128</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO07</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Ribeirinhas Quilombolas: rio, terra e resistência</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Cássio Felipe de Lima Silva Viana (Universidade do Estado da Bahia); Caio Emanuel Alves Silveira dos Prazeres (Universidade do Estado da Bahia); Larissa Mota da Silva Calixto (Universidade do Estado da Bahia); Victória Cristina Rodrigues Resende dos Santos (Universidade do Estado da Bahia); Teresa Leonel Costa (Universidade do Estado da Bahia)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Jornalismo, Mulheres Quilombolas, Reportagem Multimídia, Juazeiro  BA, </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este trabalho descreve o processo de elaboração de Ribeirinhas Quilombolas: rio, terra e resistência. A reportagem multimídia constrói narrativas acerca da trajetória de luta de mulheres que pertencem às comunidades quilombolas, Rodeador e Alagadiço, ambas localizadas em Juazeiro (BA). Guardiãs de memórias do seu povo, elas assumem papéis de liderança nas suas comunidades. Pretendemos contribuir com o processo de conformação de uma memória viva da identidade negra dessa região e atualizar a imagem da mulher negra e sertaneja, por vezes estigmatizada como submissa ou masculinizada pelo determinismo geográfico. Para isso, empregamos as metodologias de Maria Luiza Hoffmann (2014), Armando Silva (2008) e a técnica de entrevista semiaberta em profundidade. Ao evocar memórias e reinterpretar o passado, essas mulheres fortalecem seus lugares de pertencimento, suas identidades e suas lutas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A cidade de Juazeiro (BA) possui 73% de população negra  entre pretos e pardos, de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro e Geográfico (IBGE, 2010). Essa estatística pode ser explicada pela forte presença de comunidades de origem negra e indígena (SANTOS; SANTOS, 2016). No entorno da cidade, existem quatorze comunidades quilombolas identificadas pelo Ministério do Desenvolvimento, de acordo com dados do projeto Geografar  Geografia de Assentamento na Área Rural, vinculado à Faculdade de Geografia da Universidade Federal da Bahia (GEOGRAFAR, 2005). Apesar das estatísticas, até maio de 2016, somente a comunidade Alagadiço conseguiu garantir sua certificação enquanto comunidade remanescente de quilombo pela Fundação Palmares. Este trabalho centra o olhar sobre as comunidades Alagadiço e Rodeador em função da especificidade da atividade para disciplina Jornalismo Online e das limitações geográficas, técnicas e de tempo. A ideia nasceu a partir da participação de alguns membros da equipe no projeto de Iniciação Científica  Perfil fotoetnográfico de comunidades quilombolas do Submédio São Francisco: identidades em movimento . Mas, apesar de ser fruto dessa experiência de investigação, o trabalho possui intencionalidades próprias. Assim, pretende provocar reflexões sobre o papel dessas mulheres para o fortalecimento da cultura e da manutenção da memória de seus territórios. Desse modo, pretendemos contribuir com o processo de construção permanente de suas memórias e identidades e atualizar a imagem da mulher negra e sertaneja, por vezes estigmatizada pelo determinismo geográfico.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Ribeirinhas Quilombolas: rio, terra e resistência teve como objetivo principal produzir uma reportagem multimídia em plataforma digital sobre o protagonismo de mulheres quilombolas das comunidades Alagadiço e Rodeador no processo de fortalecimento das culturas e das memórias de seus territórios de identidade. A reportagem também teve o intuito de contribuir com o processo de construção permanente de suas memórias e identidades, atualizar a imagem da mulher negra e sertaneja, por vezes estigmatizada pelo determinismo geográfico, e com a luta atual do Rodeador pela garantia da certificação de seu território enquanto remanescente de quilombo pela Fundação Palmares. Experimentar a produção de uma reportagem multimídia num contexto de convergência midiática foi outra provocação proposta por este projeto. Em tempos de espetacularização midiática, onde somos bombardeados com uma infinidade de informações -na maioria das vezes sem credibilidade e qualidade-, é fundamental reafirmar o compromisso ético e social da comunicação. Com o advento da internet as diferentes formas de comunicação (texto, vídeo, fotos, ilustrações, etc) foram potencializadas. O desenvolvimento da World Wide Web (WWW) e das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) possibilitaram uma convergência midiática, na qual as relações entre emissores e receptores foram modificadas, assim como as formas de produção, veiculação e consumo da informação. Por isso, com a plataforma  Ribeirinhas Quilombolas: rio, terra e resistência pretendemos ecoar os discursos dessas mulheres ativistas e aguerridas que, em seus territórios, protagonizam suas manifestações culturais, políticas e religiosas, desenvolvendo modos de vida próprios que revelam práticas de resistência ancoradas na solidariedade e na união.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Ao se debruçar sobre o estudo dos álbuns de família realizado pelo subprojeto  Território e memória nos álbuns de família de comunidades quilombolas do Rodeador, Alfavaca e Capim de Raiz , realizado por pesquisadores da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), em 2015, se percebeu características importantes neste processo de  resguardar a história da família e das comunidades quilombolas: na maioria das vezes, as fotografias não estavam organizadas em álbuns, mas dispersas entre caixas e sacolas plásticas. Outra característica importante era a presença marcadamente feminina no processo de enunciação das imagens (VIANA; ARAÚJO; SANTOS, 2016). Essas mulheres são contadoras de histórias. O jornalista e escritor Eduardo Galeano (2002) escreveu que contadores de histórias estão sempre  brotados de pessoinhas que lhes saem pelos poros. Guardam fotografias, nomes, datas, histórias que não constam nos livros. Conhecem cada metro da comunidade, inclusive, a parcela de terras que perderam para o agronegócio. Sobretudo, protagonizam a luta por direitos: terra, água, educação, saúde, cultura, lazer etc. Com as próprias mãos, tecem cada saia que gira no centenário  Samba de Véio , e se uma por acaso encosta na outra, dão o ritmo da canção. Sem perceber entoam a voz, que também é responsável por passar a história de cada comunidade de geração em geração. Dentre as características em comum do Alagadiço, Rodeador e demais comunidades do perímetro do Submédio São Francisco, está uma liderança marcadamente feminina: mulheres na  linha de frente em movimentos políticos e culturais, que justifica a escolha das personagens e abordagem deste trabalho. A relação com o rio (São Francisco), o espaço (a terra) e o pertencimento dessas mulheres, por vezes invisíveis aos olhos de outras comunidades ou das instancias governamentais, fortalecem as ações dessas vozes femininas que vão atuando de forma sorrateira e inteligente. Muitas vezes até sem imaginar o papel relevante nas questões econômica, sociais e políticas das suas comunidades. Segundo Viana, Araújo e Santos (2016), ao se dedicar ao estudo das comunidades quilombolas, o pesquisador deve considerar aspectos como território, os traços da história negra e a identidade. Sendo assim, a importância da plataforma Quilombolas Ribeirinhas: rio, terra e resistência se justifica pela riqueza simbólica das narrativas das personagens, importantes na construção historiográfica da cidade de Juazeiro, no norte da Bahia. Mesmo diante de um território predominante negro, onde pulsam diversas manifestações culturais e políticas oriundas desses grupos de identidade, o eco de seus discursos sofrem constantes tentativas de deslegitimação e marginalização afirmadas por atuações coletivas (representantes municipais contrários ao fortalecimento da identidade negra na região). Contrariando esse movimento, neste trabalho, valorizamos e difundimos os discursos desses sujeitos que, em seus territórios, desenvolvem modos de vida próprios que revelam práticas de resistência ancoradas na solidariedade e na união. Do mesmo modo, este projeto contribui com o processo de conformação de uma memória viva e instigante sobre essa presença predominantemente negra dessa região e atualiza a imagem da mulher negra e sertaneja, por vezes estigmatizada como submissa ou masculinizada pelo determinismo geográfico. Por limitações geográficas e técnicas, o projeto só pôde contemplar duas comunidades. Escolhemos a comunidade Rodeador porque pretendemos, com esse projeto, contribuir com a sua luta atual pela garantia da certificação de seu território enquanto remanescente de quilombo. A outra comunidade é a do Alagadiço, por ser a primeira comunidade quilombola certificada pela Fundação Palmares no município.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A partir de uma construção jornalística, imagética e poética, que converge numa plataforma online com textos, fotografias, ilustrações e vídeos, dando caráter multimídia ao projeto (reportagem multimídia), pretendemos ilustrar e desdobrar os resultados da reportagem Quilombolas Ribeirinhas: rio, terra e resistência. O trabalho perseguiu a investigação do acervo imagético das comunidades citadas, localizadas em Juazeiro, no extremo norte da Bahia, com o intuito de pesquisar sobre essas comunidades e de certa forma, contribuir com os processos de construção permanente de suas memórias, de certificação e titulação de suas terras. A reportagem propôs a leitura das imagens pelos próprios sujeitos, revelando memórias coletivas, que remetem à vivência no quilombo; familiares e individuais, todas entrelaçadas com as discussões sobre o papel da mulher negra nesses espaços, e também dissolvidos na força do olhar capturado de cada mulher quilombola representada em fotografias, nas palavras escritas de seus perfis e nas imagens em movimento, que deixam escapar, do rio, a  impossibilidade de apreender seu curso, seu discurso, seu vapor , como diz o poema  Rio , de Laura Liuzzi (2014), em Desalinho. Nesse processo de rememoração das fotografias e de suas construções imagéticas, os sujeitos se deparavam com um tempo já extinto, mas que se faz presente por meio de uma associação com o passado. Como resultado, a reportagem apontou certo movimento que influencia significativamente o processo de reconstrução da identidade dessas mulheres e as relações de pertencimento com o território, que não é somente o lugar onde vivem, mas que constroem memórias afetivas que dizem muito sobre o que elas são (VIANA, 2016). Empregamos a metodologia adotada por Armando Silva (2008) na sua investigação sobre álbuns de família na Colômbia e nos Estados Unidos, em que ele propõe a leitura das imagens pelos próprios sujeitos, utilizando pontos de vista  históricos, sociais, regionais, sexuais, de geração e territoriais (SILVA, 2008, p.128), tomados como mediadores de uma cultura, para avaliar diversos tipos de ritos passados pelas famílias. O autor destaca um aspecto que nos parece muito importante e que também foi considerado no processo de entrevistas com as mulheres quilombolas representadas: se trata do que não é revelado nas imagens, o que não foi enquadrado ou o que foi eliminado do enquadramento. Várias vezes, as imagens ocultas aparecem nos relatos ou são provocadas a aparecer pelo investigador. Por outro lado, e não menos importante, os silêncios, gestos, expressões faciais, como também o caráter orgânico das entrevistas, em que as mulheres falavam livremente, sem grandes interrupções, são fundamentais para compreensão das realidades. Considerando as peculiaridades das comunidades investigadas (problemas estruturais como, por exemplo, dificuldade de acesso à água; falta de transporte público; ausência de serviços de saúde e equipamentos urbanos como creches, escolas, casas de cultura, dentre outros), a reportagem incorporou os pontos de vista utilizados por Silva (2008), mas teceu outros que sugerem categorias de organização das imagens, adotando um percurso metodológico próprio. Os pontos de vista são: o território, os traços da história negra e a identidade. Pensar o território possibilita refletir o processo de ocupação do espaço ao longo do tempo, expandindo, portanto, aos processos de disputa da terra por parte das populações negras rurais e a própria relação com o Rio São Francisco. Os traços da história negra estão presentes nas imagens através da presença dos familiares mais velhos ou mesmo jovens - neste ponto de vista, a reportagem englobou subcategorias como festas familiares, coletivas e momentos políticos da comunidade. Por último, as identidades reveladas nas imagens dos álbuns de família. Ou seja, interessou à reportagem discutir como os sujeitos se veem em relação às suas origens diante de um território onde coexiste uma multiplicidade de identidades: negra, indígena e sertaneja. Para este trabalho, esses pontos de vista supracitados nos serviram para elaborar as perguntas das entrevistas em profundidade com as mulheres do Rodeador e do Alagadiço. É importante salientar que não encaramos o roteiro como uma técnica estanque, ou seja, outras questões surgiram na conversa com as mulheres, especialmente duas delas:  O que é ser mulher e estar à frente dos movimentos culturais e políticos da comunidade? e  Qual o seu sonho? . Dois aspectos levantados pela reportagem que nos chamaram muito atenção foram às percepções de que a maior parte das imagens não estava organizada em álbuns organizados e ornamentados, mas soltas em caixas, sacos plásticos e gavetas; e de que o processo de enunciação das imagens era realizado principalmente por mulheres. Este último, especialmente, nos conduziu ao tema deste trabalho: Quilombolas Ribeirinhas: rio, terra e resistência. Para isso, além da metodologia proposta por Armando Silva (2008), utilizamos a proposta metodológica do uso da fotografia como disparadora do gatilho de memória, de Maria Luiza Hoffmann (2014). A partir do momento em que as mulheres revisitam suas fotografias guardadas nos seus álbuns ou em caixas soltas, elas reinterpretam sua história, de acordo com Hoffmann (2014). Ao rememorar suas lembranças,  o homem relaciona os sentidos presentes à sua experiência do passado, o que para Thompson (2002) é necessário para a construção e a manutenção da identidade (HOFFMANN, 2014, p. 89). Além das fotografias escolhidas pelas mulheres, que solicitamos previamente para o momento das entrevistas, de modo intuitivo e espontâneo, sem ter sido feito um planejamento, surgiu a ideia de utilizar outros objetos que simbolizavam a relação delas com o território e a cultura das respectivas comunidades. Para a coleta de dados utilizamos a técnica de entrevistas semiabertas em profundidade, em que  o pesquisador organiza um conjunto de questões (roteiro) sobre o tema que está sendo estudado, mas permite, e às vezes até incentiva, que o entrevistado fale livremente sobre assuntos que vão surgindo como desdobramentos do tema principal (GERHARDT; SILVEIRA et al, 2009, p. 72). As fotografias foram feitas a partir de três câmeras fotográficas dos modelos Nikon D7000, Canon EOS 60D e Nikon D3100 e na captação de imagens em movimento utilizamos a Canon EOS 60D.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Entre 2014 e 2017, um dos integrantes desta equipe contribuiu como bolsista de iniciação científica no projeto de pesquisa Perfil Fotoetnográfico das Populações Quilombolas do Submédio São Francisco: Identidades em Movimento, cujo objetivo era discutir a construção das identidades a partir do patrimônio cultural destas populações (QUILOMBOS, 2018). Do contato com estas comunidades e, principalmente, a partir dos resultados de seu subprojeto  Território e memória nos álbuns de família das comunidades quilombolas do Rodeador, Alfavaca e Capim de Raiz , citado acima, na metodologia, surgiu o desejo de registrar a história destas mulheres e sua relação com o território onde nasceram, cresceram e habitam. Foi na disciplina de Jornalismo Online, do curso de Comunicação Social - Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia, em Juazeiro, onde colocamos a ideia em prática. Iniciamos a produção em outubro de 2017, com o mapeamento das comunidades quilombolas de Juazeiro que poderiam ser contempladas com a reportagem. Por limitações geográficas e técnicas, o trabalho só pôde contemplar duas comunidades. Escolhemos a comunidade Rodeador, por estar, atualmente, em busca do processo de certificação do território enquanto remanescente de quilombo. A comunidade é conhecida, principalmente, pelo potencial turístico do seu balneário. A outra que escolhemos foi a comunidade Alagadiço, por ser a primeira comunidade quilombola certificada pela Fundação Palmares no município. Em novembro, iniciamos as entrevistas e as gravações, que eram realizadas sempre em locais sugeridos pelas personagens. Nas próprias casas, nas praças, nas igrejas, na beira do rio. Nos locais onde plantaram suas raízes, seus afetos, sua militância, sua fé. Depois das entrevistas e das fotos, que duravam tardes inteiras, fazíamos uma pergunta-chave:  qual o seu sonho? . Com frequência, ficavam surpresas (não mais que nossa equipe de reportagem) e demoravam a responder. Em seguida, disparavam: água tratada, escola de ensino básico, espaço de convivência para a comunidade, emprego para os filhos e netos. Por melhor se adequar à nossa proposta, escolhemos a plataforma online gratuita de criação e edição de sites Wix.com. Encontramos na plataforma um layout adequado e que foi totalmente editado para inserir todo o conteúdo da reportagem multimídia. Relativamente à produção de conteúdo, se, num primeiro momento de desenvolvimento das potencialidades do meio, a notícia era apenas transposta para o suporte digital (PAVLIK, 2001; MIELNICZUK, 2003), o jornalismo online foi crescentemente e criando seus próprios conteúdos, especialmente adaptando-os à linguagem hipermídia. O novo, aqui, se refere especialmente a formatos hipermidiáticos nos quais a convergência de disposição lado a lado das formas de representação verbais, visuais e sonoras, mas de como vem se efetivando a sua aglutinação num todo de sentido que aparece com características especificas do meio. Esta reportagem multimídia optou por este formato dinâmico e aglutinador entre imagens, textos, artes e vídeo para apresentar um formato redacional que possibilita narrativas jornalísticas que dialogam com as possibilidades tecnológicas, com estilo e características especificas dos personagens. (LEONEL, 2015) O material está dividido por comunidade (em ordem alfabética). O público encontra uma apresentação sobre o trabalho e pequenas notas que o orientam sobre cada comunidade, além dos perfis das personagens, galerias de fotos e vídeos. E assim como todo o conteúdo multimídia, o design e as ilustrações do Quilombolas Ribeirinhas: rio, terra e resistência foram elaborados pela equipe. As ilustrações que compõem o site foram feitas no Corel X7, através do processo de vetorização das fotografias que posteriormente foram cortadas para serem inseridas na plataforma. Já as fotografias foram feitas a partir de três câmeras fotográficas dos modelos Nikon D7000, Canon EOS 60D e Nikon D3100. O objetivo inicial era retratar as mulheres que seriam perfiladas e a comunidade que estas faziam parte. Para a produção das fotografias e dos vídeos discutimos em equipe e com a professora orientadora, como essas mulheres poderiam ser retratadas. Aqui, a nossa maior preocupação era que as narrativas fossem relacionadas a elementos que representassem a luta dessas mulheres pela terra e pelas tradições das comunidades. Por isso, abrimos espaço para os olhares dessas mulheres sobre como gostariam de ser representadas a partir de suas relações com os territórios. Além das fotografias escolhidas pelas mulheres, que solicitamos previamente para o momento das entrevistas, de modo intuitivo e espontâneo, sem ter sido feito um planejamento concreto, surgiu a ideia de utilizar outros objetos que simbolizavam a relação delas com o território e a cultura das respectivas comunidades. É importante salientar que as mulheres participaram efetivamente e autonomamente desse processo de criação de uma concepção imagética/estética do nosso trabalho. Assim, cada uma delas trouxe roupas, feitas por elas mesmas, que utilizam em manifestações culturais como o Samba de Véio e Penitência  -tradições centenárias das comunidades quilombolas da região; fotos de momentos considerados, por elas, importantes nas comunidades; instrumentos musicais e imagens de santos e santos, padroeiros (as) das comunidades. Numa tentativa de ser fiel ao cenário e a representação dessas mulheres perante a comunidade, todas as fotos só receberam um pouco de brilho ou foram descoloridas no programa Adobe Photoshop Lightroom. A ilustração foi feita digitalmente utilizando o programa "Paint Tool Sai"; o design das personagens apresentam silhuetas que se conectam entrelaçando as mãos, simbolizando a coletividade; As cores que tendem entre o azul e azul-esverdeado representam a forte ligação com o rio e o vermelho-sangue, a Luta; O simbolo do sexo Feminino, muito utilizado em bandeiras de luta por movimentos feministas, aparece bem na parte superior da ilustração, Como uma bandeira mesmo, estendida e que "aponta" para o foco que é o perfil das mulheres das comunidades. Na captação de imagens utilizamos uma câmera Canon EOS 60D e com o auxílio de um tripé fizemos os enquadramentos e movimentos de câmera. Utilizamos planos abertos e médios na intenção de mostrar mais das comunidades e ao mesmo tempo dar foco às personagens, e assim construir uma narrativa. Utilizamos plano americano para enquadramentos mais fechados, e em raros momentos, primeiro plano, durante algumas das entrevistas, com a intenção de aproximar as personagens, dando-lhes a devida importância e mostrar os elementos simbólicos escolhidos por elas. Cada detalhe busca auxiliar na construção narrativa e identitária das personagens. A trilha sonora foi feita a partir de músicas cantadas durante as entrevistas, tais músicas pertencem aos movimentos culturais das comunidades e são elementos que também auxiliam a compor os perfis em audiovisual. As imagens da comunidade foram feitas nos intervalos entre as entrevistas. A edição dos vídeos buscou costurar os elementos simbólicos, buscando ser o mais fiel possível na construção das representações das identidades envolvidas. Na captação de áudio optamos por deixar sons externos que faziam parte do lugar e, assim como as músicas, eles se tornam elementos narrativos. Toda a construção dos elementos simbólicos foi feita a partir de indicações das próprias personagens.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A reportagem multimídia documental visa ser um narrador observador, fazendo com que as mulheres representadas possam contar suas próprias histórias sem, necessariamente, a presença de um mediador. Acreditamos ter conseguido alcançar esse objetivo tendo em vista o caráter orgânico das entrevistas, em que as mulheres puderam se expressar livremente, sem interrupções. Há aqui uma compreensão do importante papel exercido por essas mulheres, que se tornam lideranças ao manter vivas as memórias do coletivo. No instante da metodologia nós utilizamos de linguagem técnica do audiovisual com a técnica de reportagem documental espontânea, pois nós averiguamos que em sentido de produção acadêmica multimídia a produção ficaria rica em processo imagético e textual. Através desta etapa listamos um estilo jornalístico audiovisual em formato de site, construímos a identidade visual de nosso produto e roteirizamos os processos de pré-produção, produção e pós-produção. O trabalho, que se iniciou a partir do resgate das histórias existentes por trás dos álbuns de família das comunidades quilombolas, segue aqui para uma tentativa de eternizar tais narrativas por meio de vídeo, texto, traços e fotografia compiladas no site Quilombolas Ribeirinhas: rio, terra e resistência. Ressaltamos a importância de considerar a participação efetiva dos membros da equipe e das mulheres representadas no processo de enunciação de suas próprias histórias. Isso fez com que todos os envolvidos se atentassem para a percepção de uma memória sensível acerca de suas trajetórias. Esse processo resgata sentimentos e emoções sobre o que vivemos ao longo da vida. É possível perceber esse aspecto quando temos acesso às narrativas construídas pelas mulheres ao olharem suas fotografias e se relacionarem com os objetos utilizados em suas manifestações culturais. Concluímos que ao evocar memórias e reinterpretar o passado, essas mulheres fortalecem seus lugares de pertencimento, suas identidades e suas lutas.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">GALEANO, Eduardo. O livro dos Abraços. 9. Ed. Porto Alegre: L&PM, 2002. 140 p. Disponível em: http://delubio.com.br/biblioteca/wp-content/uploads/2014/03/O-Livro-dos-Abrac_os-Eduardo-Galeano.pdf. Acesso em: 12 maio 2018.<br><br>GERHARDT, Tatiana; SILVEIRA, Denise (orgs). Métodos de pesquisa et al. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009.<br><br>GEOGRAFAR. Disponível em: http://www.geografar.ufba.br/estudo%20msf.html. Acessado em 07. nov.2017. <br><br>HOFFMANN, Maria Luiza. Fotografia, gatilho de memória. In: BONI, Paulo César. Fotografia: usos, reflexões e repercussões. Midiograf, Londrina, 2014, p. 67-96.<br><br>IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo demográfico: Rio de Janeiro, 2010.<br><br>LEONEL, Teresa. Blog do Noblat: Estilo e autoria em jornalismo. Curitiba: Appris, 2015.<br><br>LIUZZI, Laura. Desalinho. São Paulo, 2014, p. 41.<br><br>MIELNICZUK, Luciana. Jornalismo na Web: uma contribuição para o estudo do formato da notícia na escrita hipertextual. Tese de Doutorado. Salvador: FACOM/UFBA, 2003.<br><br>PAVLIK, John V. 2001. Journalism and New Media. New York: Columbia University Press, 2001.<br><br>QUILOMBOS e Sertões. Disponível em: <http://quilombosesertoes.blogspot.com.br/p/pesquisa.html>. Acesso em: 11 mai. 2018.<br><br>SANTOS, Ceres; SANTOS, Márcia. A Comunicação nos processos de certificação de comunidades quilombolas do Sertão do São Francisco: o caso do Alagadiço, In: Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXIX Congresso de Ciências da Comunicação  São Paulo  SP  05 a 09/09/2016, 2016. <br><br>SILVA, Armando. Álbuns de família: a imagem de nós mesmos. Tradução Sandra Martha Dolinsk. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2008.<br><br>VIANA, Cássio; ARAÚJO, Danilo; SANTOS, Márcia Guena dos. Evocando memórias e lugares de pertencimento pela reinterpretação do passado nos álbuns de família de comunidades quilombolas de Juazeiro, BA. São Paulo: Intercom, 2016. 15 p. Disponível em: <http://portalintercom.org.br/anais/nacional2016/resumos/R11-0193-1.pdf>. Acesso em: 12 maio 2018.<br><br>VIANA, Cássio. Fotografia e memória: uma reflexão metodológica sobre os álbuns de família de comunidades quilombolas de Juazeiro, Bahia. Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste  Caruaru - PE  07 a 09/07/2016.<br><br> </td></tr></table></body></html>