ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00900</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;RT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;RT04</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Minutos Lumière II</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;SILVANA DA SILVA SIMÕES (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA); DAISE MARIA DA SILVA SANTOS (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA); CAROLINA RUIZ DE MACÊDO (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA); Ronivaldo da Silva de Almeida (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA); Adson Rodrigues Ferreira (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA); Débora Aparecida Santana da Silva (UNIVERSIDADE ESTADUAL DA BAHIA)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Arte, Primeiro Cinema, Estética, Série, Experimentação</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Minutos Lumière foi um projeto desenvolvido ao longo das práticas discentes do componente curricular Estética da Comunicação, no curso de Comunicação Social - Rádio e TV, na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). As produções realizadas foram influenciadas pelas discussões em sala e principalmente pelo embasamento teórico de pensar a produção audiovisual como uma ferramenta de descolonização do olhar. O Minutos Lumière resgata a experiência inaugural do cinema, pensada a partir da concepção de Eisenstein, que entende a idealização da linguagem cinematográfica como blocos de construção ou como células, que alinhadas a um princípio de criação artística dão vida ao que conhecemos como sétima arte (ANDREW, 2002).</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O surgimento do cinema promoveu uma revolução no mundo das artes. Os primeiros filmes realizados de forma experimental durante um período que não era dominado pelos aparatos tecnológicos, dificultava o processo técnico de produção, entretanto, essa deficiência não impediu que os gênios da arte cinematográfica criassem os clássicos que conhecemos hoje. A invenção dos irmãos Lumière, no final do século XIX, a priori, pretendiam evidenciar a rotina das pessoas através das imagens, mas o experimento tomou proporções que possivelmente nem mesmo eles imaginariam. Para Andrew, a arte pode ser produzida pela mesma capacidade humana que permite a experiência cotidiana, o artista usa suas categorias universalmente significativas no particular (ANDREW, 2002). Neste sentido, a relação entre a arte e a individualidade do criador é a força motriz para a produção da série Minutos Lumière, pois a proposta não é meramente reproduzir cenas cotidianas em um tempo determinado, mas reverenciar a experiência inaugural do cinema, bem como despertar a sensibilidade do indivíduo no ato de criação, aguçando o olhar de quem produz, mas também do receptor, para perceber as miudezas efêmeras do dia a dia. É o momento que criatividade e técnica se unem na intencionalidade dos enquadramentos, na escolha da música e da cor; elementos que, alinhados, criam harmonia e geram sentido à narrativa, além de possibilitar o gozo estético já no processo de produção.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O objetivo do projeto Minutos Lumière é recriar  e não somente adaptar  a experiência inaugural do primeiro cinema, e despertar nos discentes realizadores e no público alvo dos produtos a descolonização do olhar, estimulando a criatividade e sensibilidade e também a valorização das efemeridades da vida através da captura de imagens com o intuito de promover. Captando cenas banais e os acasos cotidianos em cidades da região sisaleira ou em ambientes urbanos e rurais não necessariamente identificáveis, os 18 filmes que compõem a série procuram trazer uma nova forma de olhar o mundo e seus aspectos escondidos por camadas e camadas de imagens "prontas", premitindo, a partir do cinema, reinaugurar a realidade cotidiana, redescobrir o prazer de olhar ao redor e "ver".</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Minutos Lumiére surgiu como proposta prática da disciplina de Estética da Comunicação a partir das propostas de Alain Bergala (2008) e Adriana Fresquet (2013) e as discussões teóricas do texto "A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica" (2000), de Walter Benjamin. O autor aponta para algumas questões importantes como a noção de autenticidade, o valor de culto e a unicidade na obra de arte, e, afirma: "O que faz com que uma coisa seja autêntica é tudo que essa contém de originariamente transmissível" (BENJAMIN 2000). Considerando neste sentindo que arte está ligada as manifestações de ordem estética, tais discussões possibilitaram algumas reflexões no que diz respeito à percepção dos indivíduos e as formas de contemplação artística na sociedade contemporânea, totalmente mediada pelos dispositivos tecnológicos. Diariamente recebemos imagens e informações que são descartadas instantaneamente, o que nos empurra para a perda da sensibilidade no processo de apreciação. O projeto Minutos Lumière se caracteriza como ferramenta para promover a descolonização do olhar através do apelo estético.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para a concepção da série Minutos Lumière, a priori foi necessário o conhecimento acerca de referenciais teóricos, fundamentados na observação de particularidades estéticas que são essenciais para a construção de um produto audiovisual. Entender como os irmãos Lumière transformaram um experimento em uma obra clássica, e o modo que sempre se discutiu arte e se pensa sobre arte nos direciona a uma reflexão sobre as linguagens cinematográficas, por meio dessa contribuição histórica da imagem em movimento. Posteriormente assistimos tais filmes, assim como também releituras dessas obras realizadas por amadores, isso foi primordial para entendermos a proposta. Martin (2013) evidencia essa análise que fazemos a partir dos detalhes que ganham ressignificação, explicando que a linguagem fílmica se aproxima da linguagem poética, pois a linguagem prosaica se enriquece com múltiplos significantes potenciais, através dessa linguagem o realizador pretende fazer obra de arte, a sua influência sobre a coisa filmada é determinante. Se a imagem transpassada em tela deve ser passível de interpretação, a escolha do modo de como enquadrá-la é o princípio para alcançar tal finalidade. Bazin reafirma essa tese: "Ali não é um enquadramento apenas, é um esconderijo, o personagem que sai dela continua a viver, perpetua, mas também tudo o que passa no interior do enquadramento morre de maneira absoluta, uma vez que é ultrapassado esse enquadramento." (apud BARTHES, 1984, p. 86) Entretanto, quando Barthes nos diz que "ao encontrar o punctum numa imagem, ela pode oferecer perspectivas para além do que está retratado ali, o punctum é, portanto, uma espécie de extracampo sutil que se abre, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela dá a ver", entendemos que por mais banal pareça uma imagem, há nela detalhes que contextualizam e legitimam sua presença. Nesse cenário da vida cotidiana, exposta em um minuto de vídeo, pode conter muito mais elementos para aqueles que disponham de um repertório crítico, percebemos nesse "quadro" que ela gera por si só alguma intencionalidade. "Não são as imagens que fazem um filme, mas a alma das imagens" (BARTHES, 1984, p. 73, 75, 76). Foram utilizados poucos aparatos técnicos, o que possibilitou o exercício da criatividade por parte dos seus idealizadores. Sendo um trabalho coletivo, a turma teve liberdade para se dividir em duplas, trios ou individualmente, e idealizar e realizar seu "minuto", desde que de acordo com a proposta conceitual e estética do projeto. As ferramentas de captura e edição de imagem foram variadas, sendo utilizadas handycams, celulares ou câmeras DSLR, dependendo da proposta de cada vídeo. A escolha estética da cor reverencia o Primeiro Cinema e a captura da singeleza da "vida" representada em um minuto permite a valoração do que é trivial no cotidiano e que costumeiramente passa despercebido. Cada "minuto" foi pensado para ser exibido de maneira avulsa, integrado em programação televisiva, como uma série de interprogramas que funcione como contraponto estético aos demais produtos da programação. A exibição de vários produtos desta série fora padrão estético televisivo vigente, que traz outro ritmo, outra temporalidade, outro regime de olhar, e funciona fora da lógica narrativa que se tornou convencional, tem a intenção de provocar estranhamento e despertar a curiosidade nos telespectadores, gerando também reflexão em torno da linguagem audiovisual. O resultado final das produções também pode ser exibido como produto único, com os diversos vídeos encadeados, como apresentado aqui, para ser exibido como produto coletivo em mostras e eventos. Esta versão tem uma introdução com a colagem de uma cena de Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, e fechamento, após os créditos, com o insert de uma cena de Vento do Leste, de Glauber Rocha, dando unidade à obra.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Dentro de uma estética imagética, e das infinitas possibilidades que as técnicas e processos de desenvolvimento que uma criação tem, a série Minutos Lumière foi idealizada e inspirada a partir das obras originais dos irmãos Lumière. É previsível que essas perspectivas de uma ressignificação correspondam a uma análise com base num estilo contemporâneo, experimental e, por vezes, arrojado de fazer cinema. "Sabe o que é o melhor do cinema? É que no cinema tu pode fazer o que tu quiser". É com essa fala do ator Matheus Nachtergaele, um insert de cena do filme Baixio das Bestas, que a abertura já convida o espectador a mergulhar no universo extraordinário e singular que é a cinegrafia. "(Re)volução", é a sequência que faz menção ao clássico dos irmãos Lumière "A Chegada do Trem à Estação", nesse vídeo o idealizador optou por manter as cores, mas, em contrapartida, na imagem a data e horário de gravação são expostos na tela, como era captado por câmeras de videotape amadoras. A câmera registra a chegada do trem na cidade de Serrinha (BA), e vão surgindo à esquerda do vídeo algumas pessoas curiosas, enquanto os vagões passam na tela. Em "Ponto de vista", temos a mesma sequência de acontecimentos: a tela está dividida em duas e as câmeras posicionadas em ângulos distintos na Praça da Matriz em Conceição do Coité (BA), e deixando ver pessoas que circulam por ali. A apresentação simultânea destes dois pontos de vista do mesmo tempo-espaço nos expõe olhares e reflexões diferentes sobre o mesmo objeto, evidenciando didaticamente como a escolha de onde posicionar a câmera transforma a realidade, constituindo a realidade fílmica. "Um clássico" traz um enquadramento em alusão ao plano detalhe. Nele temos as mãos de uma mulher preparando acarajés e a música que acompanha as imagens é Eine Kleine Nachtmusik, de Mozart, aparentemente fora do contexto da cultura baiana do acarajé, mas dialogando com o título para transmitir a mensagem de que esse quitute faz parte do patrimônio histórico-cultural da culinária brasileira. "Sombras na Praça" traz um plano geral, pois a câmera está posicionada na praça da Babilônia, em Conceição do Coité (BA), abaixo de enfeites de São João que são refletidos pela luz solar. Há uma grande movimentação captada nas imagens, de pessoas andando, ou se locomovendo com bicicletas em ritmo acelerado e em sentido contrário. A canção Ponta de areia, de Milton Nascimento, enriquece a carga dramática da rotina evidenciada. "Selva urbana", produzida pelos idealizadores em um grande plano geral, narra através dele o caos diário de uma metrópole, em um ponto da cidade de Salvador (BA). O ângulo escolhido conseguiu retratar a dureza e ao mesmo tempo os mistérios que a envolve. Em "O Parque", a canção Perfect Day, do Lou Reed, embalada nesse enquadramento capturado na Praça da Babilônia, em Conceição do Coité (BA), traduz de modo singelo e nostálgico o momento de diversão das crianças que estão ali. A felicidade em seu mundo de brincadeiras, risos e compartilhamentos, alguns no balanço, outras no escorregador, e algumas reunidas no gira-gira. No vídeo "Moscando", o destaque é uma mosca numa vidraça. A música é Piscina Haikai de Letuce, e remete a essa sensação de fadiga, ócio, de como a citação do título, juntamente com a composição dos outros elementos nos direciona em torno de algo que tem tudo para ser simplório, mas nos envolve nessa dinâmica paradoxal. A série segue com mais 11 vídeos, provocando as mais diversas respostas sensoriais, emocionais e cognitivas no espectador através desses experimentos reflexivos da linguagem audiovisual.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A produção da série de vídeos Minutos Lumière evidenciou como a nossa percepção de uma imagem pode ter uma conotação diferente, até contraditória, quando acrescido algum outro elemento, como os efeitos sonoros ou a música. Esses itens vão envolvendo o espectador na narrativa e dando o tom da carga emocional que o filme intenciona despertar. Ainda que haja aparente divergência sígnica entre os elementos que compõem os vídeos, o estranhamento será o efeito provocado, sendo este mesmo o objetivo do realizador. Sobre esse aspecto Eisenstein afirmou que: "o som não se introduziu no cinema mudo: saiu dele. Saiu da necessidade que levava o nosso cinema mudo a ultrapassar os limites da pura expressão plástica." (apud MARTIN, 2013, p. 140). Outro ponto a destacar é que apesar de que as imagens apresentadas mostrarem atores sociais realizando atividades que fazem em seu dia-a-dia, elas deixam de ser uma "verdade absoluta" e incontestável quando passam pelo tratamento estético fílmico. Retratar a realidade nesse âmbito é também retratar o ponto de vista e repertório pessoal do idealizador, bem como seu estilo poderá ser o destaque em comparação a outras obras de igual temática. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">ANDREW, J. Dudley. As principais teorias do cinema: uma introdução. Trad. Teresa Ottoni. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002<br><br>BARTHES, Roland. A câmara clara. Rio de Janeiro. Editora: Nova Fronteira, 1984.<br><br>BENJAMIN, Walter. A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica. In: ADORNO et al. Teoria da Cultura de massa. Trad. de Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Paz e Terra, 2000.<br><br>BERGALA, Alain. A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE -FE/UFRJ, 2008.<br><br>FRESQUET, Adriana Mabel. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e  fora da escola. São Paulo: Autêntica, 2013.<br><br>MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2013<br><br> </td></tr></table></body></html>