ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00201</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;PT</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;PT01</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;A COR DA NOSSA HISTÓRIA: A CRIANÇA NEGRA NO AMBIENTE ESCOLAR.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Amanda Louzada Affonso (Universidade Vila Velha)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;criança negra, educomunicação, livro, personalidades negras, poesias</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente paper tem como objetivo apresentar o processo de construção do livro físico  A Cor da Nossa História , elaborado durante a disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso de Jornalismo na Universidade Vila Velha. Buscando amparo na Educomunicação como instrumento de transformação social, o livro é um recorte sensível que pela perspectiva da criança, evoca uma discussão sobre as práticas e problemáticas sociais que desvalorizam e silenciam o vasto histórico de lutas protagonizadas pelos negros no Brasil. Dessa forma, o produto final se materializa em um livro de poesias sobre personalidades negras escrito por alunos do terceiro ano da escola Professora Lia Therezinha Merçon Rocha, em Muniz Freire.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O Brasil é um país de múltiplas culturas e cores, mas em diversas situações, nossa sociedade se reduz ao preto e branco. Imersos em uma divisão de balanças desiguais, o preto ocupa o segundo lugar enquanto o branco, raramente tem sua hegemonia questionada, principalmente quando olhamos para sistemas institucionalizados. A escola, por exemplo, é considerada um desses sistemas contaminados por preconceitos, estereótipos e desigualdades. Em meio à diversidade de ferramentas e formas de ensino, o livro didático  suporte pedagógico mais utilizado no processo de aprendizagem  ainda se configura como um grande sustentador de estereótipos proporcionando leituras errôneas sobre o negro e sobre sua história. Sabendo que a educação, como propõe Paulo Freire (1967), é um fenômeno que se movimenta e se responsabiliza, no atual contexto social, a promover uma renovação cultural,  A Cor da Nossa História emerge da vontade de incitar um desequilíbrio nas desigualdades, preconceitos e racismo. Através da educação e da comunicação, o projeto buscou referenciar, desencadear reflexões e ampliar o conhecimento de mais de 80 crianças estudantes da terceira série da Escola Professora Lia Therezinha Merçon Rocha, em Muniz Freire, interior do Espírito Santo. O projeto apresentou durante três meses 11 personalidades negras às crianças que, mais tarde, eram desafiadas a redigir uma poesia sobre a personalidade em questão. Sendo assim, 55 poesias e 11 ilustrações compõem  A Cor da Nossa História , livro desenvolvido e feito por e para crianças. Como já dito, o produto tem como finalidade evocar uma reflexão no leitor através do que a criança, após o processo de referenciação, grafa em sua escrita. Toda a criação e execução do projeto proporcionou à pesquisadora o exercício da práxis jornalística por vias não tradicionais, assim como oportunizou maior afinidade com a Educomunicação.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A meta principal do trabalho aqui apresentado é questionar representação e representatividade do negro no sistema escolar por meio de poesias escritas por crianças que vivem o processo de socialização intensificado no convívio escolar. Tento tal finalidade como norte, a proposta debruçou-se sobre três objetivos específicos: discutir a representação da figura do negro nos livros didáticos e em todo material utilizado em sala de aula; refletir sobre aceitação, identidade e representação; apontar como preconceito, racismo, estereótipo e identidade estão imbricados no contexto da pré-escola tanto no que se refere às ferramentas educacionais como no próprio comportamento das crianças. O projeto ainda objetivou exaltar a importância de empoderar crianças, além de mostrar como estas são capazes de relacionar, organizar e compreender temáticas consideradas complexas. Por fim, é importante mencionar que o intuito do projeto era, por meio de seu processo, proporcionar uma experiência educacional de referenciação tangível que pudesse ser replicada em qualquer escola de base de todo o país. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A educação no Brasil sempre esteve atrelada ao compromisso de desenvolver o futuro cidadão, permitindo que esse exerça melhor suas habilidades e competências. Ao longo de uma trajetória letiva inserida em moldes demarcados, o indivíduo é apresentado cotidianamente a novos conteúdos na pretensão de que este tenha a oportunidade de ampliar as visões reflexivas sobre si e a sociedade. Mas será que na nova ordem global, na qual a educação é um capital social, o sistema educacional tem conseguido viabilizar relações equitativas com orientações multiculturais? Esse sistema vem fortificando a diversidade ou dá margem para que essa se fragilize? A diferença no contexto escolar nos une ou nos segrega? A resposta para essas questões talvez seja que ainda temos um caminho longo para trilhar. Quando se fala do negro participando não só na sociedade atual, mas na construção da nação brasileira ao longo dos séculos, é nítida a existência de um descompasso gerador de silêncios e invisibilidades a respeito das lutas de tal grupo e o reconhecimento de como esse foi e é importante para a formação das bases culturais das quais nos fundamentamos. Sendo assim, em um cíclico esquecimento, a hegemonia branca toma conta de toda engrenagem social afetando diretamente o sistema educacional que deveria, de acordo com suas delineadas missões, lutar contra as desigualdades. Entretanto, as lacunas que esse sistema apresenta permite que livros didáticos, cartazes colados nos corredores dos colégios, exemplos citados em sala de aula chancelem um modelo, um padrão inatingível para crianças negras. Dessa forma, sem referências, essas passam a questionar suas próprias identidades, já que não encontram nas interações sociais elementos que as façam sentir-se parte dos contextos sociais. Sendo assim, como define Eliane Cavalleiro (2015), a criança negra inicia o processo de embranquecimento  vontade de ser branco  na tentativa de ser reconhecido e aceito pelos demais. É pensando então na influência que a escola como primeira experiência legitimada de saber tem sobre a criança, que a autora propõe o projeto na tentativa não só de quebrar os silêncios institucionais, mas de gerar um produto que emerge das manifestações dessa quebra.  A Cor da Nossa História , para além da problemática social, também se justifica pelo vínculo afetivo e emocional da autora que iniciou questionamentos sobre preconceito e o lugar da criança negra após observar o cotidiano da única prima negra da família, que mesmo muito bem referenciada em casa, ao adentrar no sistema escolar, demonstrou sinais de interiorizações negativas a respeito de sua pele e traços físicos. Dessa forma, o livro dá máxima representação aos negros em todos os aspectos e reforça a importância e a necessidade de unir educação e comunicação para empoderar e conscientizar crianças em processo de formação de identidade. É importante mencionar que o projeto colabora com a lei 10.639 que obrigada a inclusão de conteúdos relacionados a cultura africana e valorização do negro no currículo escolar. Academicamente falando, o trabalho contribui com os estudos focados na Educomunicação além de que, também acrescenta nas discussões ainda escassas a respeito da criança negra no ambiente escolar.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Para realizar o presente projeto, a autora fez uso, em primeira instância, da pesquisa bibliográfica na intenção de traçar um paralelo e compreender de forma mais embasada os conceitos e assuntos que percorrem o trabalho. Em relação à criança imersa no ambiente escolar e as possíveis implicações de preconceitos advindas desse contexto, a pesquisadora estudou obras como  Do Silêncio ao Lar , de Eliane Carvalleiro, e  Preconceito e Autoconceito , de Ivone Martins de Oliveira. Foi por meio dessas leituras e dos estudos já realizados por essas autoras, que a pesquisadora conseguiu dimensionar as lacunas do sistema educacional e como as noções de preconceito e negação de traços físicos são reforçadas por métodos de ensino que raramente, mencionam o negro. Além disso, leituras como  Racismo e Anti-racismo no Brasil e  Preconceito e Racismo de Flávia Cunha Lima, ajudaram a constatar a participação do negro na formação da sociedade e os motivos pelos quais vivemos em um sistema educacional excludente. Outros pensamentos de pesquisadores e educadores como a filósofa Djamila Ribeiro foram incluídos nos estudos para alicerçar os debates sobre racismo, preconceito e discriminação. No que tange à educação, a pesquisadora estudou o Método Montessori na intenção de incluir práticas educacionais mais inclusivas e libertárias durante o projeto. Além dos autores já mencionados, as obras de educadores e antropólogos como Prandini e Munanga também ajudaram a mapear algumas necessidades para execução do projeto em sala de aula. Além disso, estes também cooperaram para o maior entendimento da figura do educador e seu papel na vida acadêmica da criança negra. Relatos da rapper Mc Soffia em vídeos e artigos que debatem a importância da inclusão da história da África nos currículos escolares foram visitados pela pesquisadora a fim de compreender, por meio da visão de uma criança engajada nessa luta, o que poderia ser feito para que o projeto despertasse ainda mais o interesse das crianças. O projeto também propunha métodos como observação participante e pesquisa-ação. É claro que, para que a observação proposta acontecesse, era necessário a entrada da pesquisadora no campo o que aconteceu pelas vias da etnografia, método pelo qual a proximidade com o objeto permite ao pesquisador interpretar e analisar com mais precisão os significados. É importante salientar que, ao realizar a observação participante, as noções de interferência que o pesquisador causa não foram ignoradas. Ter um elemento diferente em sala de aula, por si só, já altera o convívio e as ações das crianças e suas relações com o ambiente. Mas como destaca Travancas (2003), a observação imersiva só se torna um ponto prejudicial para o trabalho quando o pesquisador se esquece do seu compromisso com as análises. Entendendo os desafios que o trabalho propõe, desafios esses agravados por envolver graus de parentescos e relações íntimas com algumas crianças e educadores, a pesquisadora tomou medidas como, por exemplo, manter-se distante do quadro e da carteira da professora que são locais de referência e para onde as atenções das crianças geralmente se voltam. Dessa forma, as interações entre objeto e pesquisador aconteciam com mais veemência somente quando as crianças, por iniciativa própria, se aproximam ou dirigiam alguma pergunta específica à pesquisadora, que mantinha-se sentada ao fundo da sala. Além da observação participante, o projeto também fez uso da pesquisa-ação. O primeiro ponto de tal método explorado é o entendimento que o grupo pesquisado tem das intenções do investigador, pois como afirma Peruzzo (2006), é importante que os membros do grupo participante da pesquisa não só sirvam de objeto, mas que tenham a liberdade de elaborar o problema junto com o pesquisador. Seguindo essa lógica, professores e toda a escola  inclusive os alunos  tinham noção da existência do projeto e de suas finalidades. As crianças, mesmo sem completa dimensão do trabalho, entendiam que seus textos seriam publicados em um livro físico. Alguns personagens do livro também sabiam do projeto e participaram ativamente dele. Márvila Araújo e Juliana Vicente ajudaram na construção de suas bibliografias; Gilson Libaino visitou a escola e Ingrid Silva enviou um vídeo exclusivo saldando as crianças. Como será explanado mais à frente, as professoras também influenciavam na construção do projeto a todo momento cumprindo assim, com as metas propostas pela pesquisa-ação. Por fim, a autora se aprofundou no assunto que envolve o  local de fala através dos estudos da filósofa Djamila Ribeiro. Segundo a autora, para que haja transformação social, o branco precisa entender em primeira instância, que é historicamente privilegiado. Sendo branca, compreendendo tais privilégios, e mais do que isso, sabendo da dívida histórica que temos, a pesquisadora não tinha como intenção criar um projeto para  dar voz já que, todos nós somos portadores dela. Por meio da comunicação, das diretrizes do Jornalismo e da Educação a pesquisadora entende o projeto como um colaborador para promover uma reflexão sobre a criança negra e o sistema opressor das quais essas são submetidas. De acordo com Ribeiro (2017), é dessa forma, utilizando espaços sejam esses acadêmicos ou não, para questionar os privilégios e as diferenças que juntos, conseguiremos impactar para que a voz única (a branca) não seja mais uma realidade em nossa sociedade. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A engrenagem que moveu os primeiros passos do projeto foi a pesquisa bibliográfica e a busca pelos personagens que seriam apresentados às crianças. Por meio de sites como Gelédes, livros e outras fontes, a pesquisadora catalogou cerca 200 personalidades negras a nível nacional, internacional, regional e municipal. Dessa extensa lista, foram recortadas 11 personalidades a fim de viabilizar o projeto já que, o cronograma da escola permitir 3 meses para que esse fosse executado. Sendo assim, as personalidades internacionais foram retiradas da listagem, já que as professoras pontuaram que as crianças teriam dificuldade em se conectar mais profundamente com referências muito distantes de seus contextos. As mesmas intenções excluíram as categorias mais complexas como  filósofos . Por fim, as 11 personalidades que se destacam em diversos âmbitos sociais como música, cinema e fotografia e tornaram-se, portanto, objeto de estudo das crianças e da pesquisadora foram: Bráulio Teixeira, Gilson Libaino, Márvila Araújo, Maria Júlia Trindade, Naira Lili, Juliana Vicente, Zumbi, Ingrid Silva, Sheron Menezes, Mc Soffia e Rayza Nicácio. O passo seguinte foi a escolher as turmas onde o projeto seria aplicado. Das cinco terceiras séries presentes no colégio, três foram selecionadas por critérios pedagógicos levando em conta quesitos como níveis de aprendizado, interação e comportamento a fim de enriquecer não só a análise científica do projeto, mas também proporcionar maior diversidade no produto final. Vale salientar que os 11 personagens foram divididos aleatoriamente entre as turmas sendo que, devido a quantidade ímpar uma turma foi apresentada a três personagens em vez de quatro. Encontrar o gênero textual que melhor se encaixava na proposta do projeto também foi uma questão importante. Pensando nos atributos sensoriais que envolvem ritmo e emoção optou-se por explorar a poesia como gênero textual, ideia também muito positiva para a escola que já planejava desenvolver um estudo sobre poesias com as crianças. Além disso, é importante frisar o caráter educacional que a poesia tem, servindo de apoio tanto para o melhoramento da leitura como para a ampliação de repertório. Segundo Domingues e Ebert (2001), a poesia é um fazer crítico, sensível, social e ao mesmo tempo lúdico e criativo. Com as etapas de pré-projeto definidas, o próximo ato era elaborar o método educacional que seria utilizado para apresentar as personalidades as crianças. Nesse ponto a pesquisadora tem um papel secundário dando espaço para que as professoras criem seus próprios métodos de acordo com as necessidades de seus alunos. Em uma turma mais avançada, por exemplo, as crianças lideravam as produções sozinhos, encontrando sem a ajuda do professor ou do dicionário, o jogo de palavras necessário para formar o texto. Entretanto em uma turma com mais dificuldade acadêmica, para estimular os alunos, a professora através de um debate coletivo, grafava no quadro palavras que se relacionavam com o personagem apresentado. Esse movimento colaborava para que as crianças conseguissem por meio da coletividade, da troca de ideias, criar seus textos com mais facilidade. O trabalho coletivo é uma premissa do Método Montessoriano que acredita na potencialidade que as interações têm de criar um espaço onde as crianças adquirem maiores noções de respeito ao outro enquanto articulam melhor as ideias e pensamentos já que, podem dividi-los e questioná-los uns com os outros. Sendo assim, mesmo que as metodologias fossem se modificando de acordo com a demanda de cada turma, as três professoras utilizavam a mesma base para promover a referenciação. Todas as três dividiam as atividades da seguinte forma: aula 1  apresentação da bibliografia do personagem e discussão; aula 2  produção de texto. Na aula 1 as professoras utilizavam ferramentas como vídeos, imagens e outros instrumentos para contar a história da personalidade. Já na aula 2 que acontecia geralmente, um dia após a primeira aula, os alunos tinham como tarefa redigir a poesia. É interessante mencionar que, Gilson Libaino personagem que assim como Bráulio Oliveira, representava a cidade de Muniz Freire, foi até a escola apresentar sua bibliografia pessoalmente as crianças. Gilson demonstrou um pouco dos movimentos de capoeira (que é sua área de atuação cultural na cidade) e levou troféus, medalhas e fotografias relacionadas a sua trajetória proporcionando maior interação das crianças com o objeto. Dessa forma, o projeto seguiu com as referenciações durante os três meses e no fim, todos os textos foram entregues à pesquisadora. Nesse ponto se inicia o processo de seleção para os textos que de fato, entrariam no livro. Pensando não só no conteúdo, mas na diagramação e disposição do produto, decidiu-se que o livro seria composto por 55 poesias sendo 5 direcionadas a cada uma das personalidades. Para a seleção dos textos a pesquisadora levava em conta critérios como conteúdo, sensibilidade, criatividade e originalidade. Com os textos selecionados, a obra entrava no processo de ilustração. As artistas plásticas Viviane Prates e Nathalia Silva para captar a essência do projeto tinham acesso não só ao texto das crianças, mas a todo material utilizado pelos professores em sala para compor os desenhos que fazem uso da técnica aquarela que melhor se relaciona com a temática infantil. A capa da obra desenhada em traços infantilizados e que simulam a técnica do giz é baseada nas feições de Sophia, prima da pesquisadora. Fontes simples e sem muitos adornos foram escolhidas na intenção de facilitar o entendimento e a leitura da criança. Os contornos das fontes lembram cachos capilares e as cores estrategicamente pensadas, tem como função destacar o nome dos autores de cada texto. Em relação especificamente a diagramação, ficou estabelecido que, a ilustração se posicionaria uma folha antes das poesias a fim de, introduzir ao leitor o que seria tratado nas próximas páginas. Um texto em cada página mantendo a cor branca no conteúdo, facilita o fluxo de leitura sem cansar a criança  leitores alvo do livro. É importante destacar que os questionamentos que o projeto traz e a proposta de referenciação, são também consolidadas no valor estético da obra. As folhas pretas e a capa na mesma cor, contemplam um senso de protagonismo e máxima referenciação. O meio rosto que ilustra a capa não foi escolhido aleatoriamente e traça um paralelo com a questão da formação da identidade da criança. Um rosto pela metade é, portanto, uma outra forma de significar que vivemos em uma sociedade que (ainda) promove a divisão por meio de sistemas lacunosos. Entretanto, se qualquer criança se aproximar do livro, a face ali ilustrada será completada. As lacunas serão inexistentes. É dessa forma, quando os rostos se completam, que a  A Cor da Nossa História faz valer sua pretensão de referenciar trazendo a noção de que a metade de cada um de nós, os fragmentos de quem somos, dão existência a um conjunto social que mais do que nunca, precisa se configurar de uma forma mais justa e igualitária. Sendo assim, o desenvolvimento do projeto na escola, a estética, o design e a diagramação, não são movimentos separados. O estudo acadêmico revela o quão nosso sistema social e educacional ainda é incompleto e lacunoso por meio da observação. Enquanto isso, o produto capta essas mesmas concepções e por meio dos traços infantis, incorpora a ideia de construção e fragmento causando assim, a reflexão de que mesmo com as falhas, existem práticas, projetos e ações capazes de gerar transformação. Após a montagem do livro, todo o conteúdo foi revisado também por profissionais negros e Mayara Varalho, jornalista e militante do movimento negro, foi responsável por escrever o texto inicial da obra que reúne sua concepção não só sobre as poesias das crianças, mas sobre a ideia geral do projeto em valorizar a cultura, a beleza negra da forma como ela é.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">Muito mais do que um mero contador de histórias, o jornalista é um indivíduo capaz de incitar a mudança no contexto social por meio das ferramentas que a profissão lhe proporciona. Para a pesquisadora, ser jornalista é se preocupar com as histórias, é ter o compromisso de promover debates e de trazer à tona o que fica velado e assim, nesse movimento de desnudar, colaborar para a desconstrução de paradigmas. Tendo tais premissas em mente, a proposta do trabalho era, por meio dos conhecimentos adquiridos ao longo da universidade, criar um projeto que tivesse a configuração de uma semente onde novas ideias livres de preconceito são plantadas e por consequência, florescem. Como dito durante o trabalho apresentado, ainda existe um caminho extenso para se trilhar quando a discussão gira em torno do lugar do negro na sociedade, da criança negra no sistema escolar. Entretanto, desenvolver o projeto  A Cor da Nossa História demonstra a possibilidade de um ciclo tangível para promover a representação e colaborar com a erradicação das desigualdades. Todo o trabalho observa que tal ciclo funciona da seguinte forma: professor envolvido no processo de referenciação criando métodos do ensino específicos de acordo com a necessidade do aluno; trabalho com personalidades reais; proposta de atividades estimuladoras de sentidos; liberdade no ambiente acadêmico e utilização de diversas ferramentas no processo de ensino. Seguindo essa lógica, o ciclo resulta na identificação; representatividade; aceitação e mudança de percepção na criança. Por fim, o processo de construção do trabalho aqui exposto reforça a possibilidade de unir Comunicação e Educação na tentativa de referenciar e descristalizar as diferenças sociais e preconceitos produzidos dentro e fora do ambiente escolar.  A Cor da Nossa História é uma semente, um passo que revela a viabilidade de criar ações educacionais preocupadas em fazer da escola um lugar onde a criança negra ao invés de adquirir percepções negativas sobre si, tenha orgulho de suas origens e seja encorajada a lutar por seus espaços. </td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">BRASIL. Lei N.°10.639, de 9 de Janeiro de 2003.<br><br>CAVALLEIRO, Eliane. Do silêncio do lar ao silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na educação infantil. São Paulo: Contexto, 2015. <br><br>DE OLIVEIRA, Ivone Martins. Preconceito e autoconceito: identidade e interação na sala de aula. São Paulo, Papirus Editora, 2007. <br><br>DOMINGUES e EBERT. Síntia Lúcia Faé, Cristiane Lumertz Klein. Leitura e formação de leitor: a poesia para uma educação da sensibilidade. Disponível em: < http://seer3.fapa.com.br/index.php/arquivos/article/view/230/195> Acesso em: 03 de Jun de 2017.<br><br>FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1976. <br><br>GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e anti-racismo no Brasil. Editora 34, São Paulo, 1995. <br><br>LIMA, Flávia Cunha. Preconceito, racismo e discriminação no contexto escolar. in Gelédes. São Paulo, nov. 2014. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/preconceito-racismo-e-discriminacao-contexto-escolar/> Acesso em: 20 de Jun de 2017.<br><br>MUNANGA, Kabengele. Mito da democracia racial faz parte da educação do brasileiro. in. HuffpostBrasil. São Paulo, jan. 2016. Disponível em: <http://bit.ly/2BwX9cF> Acesso em: 25 de Maio de 2017.<br><br>PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Da observação participante à pesquisa-ação em comunicação: pressupostos epistemológicos e metodologias. set. 2003. Disponível <http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2003/www/pdf/2003_COLOQUIO_peruzzo.pdf> Acesso em: 26 de Maio de 2017.<br><br>PRANDINI, Paola. Plano de aula  identidade negra e racismo in Revista Escola. São Paulo, dez. 2014. Disponível em: <http://www.geledes.org.br/plano-de-aula-identidade-negra-e-racismo/#gs.x1gY7ps> Acesso em: 26 de Maio de 2017.<br><br>RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizone: Letramento, 2017.<br><br>SILVESTRIN, Patrícia. Método montessori e inclusão escolar: articulações possíveis. Porto Alegre, 2012. Disponível em <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/69876/000875131.pdf?sequence=> Acesso em: 09 de Jun de 2017.<br><br>SOARES, Ismael de Oliveira. Educomunicação: um campo de meditações. São Paulo, 2000. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/comueduc/article/view/36934/39656> Acesso em: 25 de Maio de 2017.<br><br> TRAVANCAS, Isabel. Antropologia e Comunicação. Editora Garamond: São Paulo, 2003. <br><br> </td></tr></table></body></html>