ÿþ<html><head><meta http-equiv="Content-Type" content="text/html; charset=iso-8859-1"><title>Anais :: Intercom :: Congresso Intercom</title><link rel="STYLESHEET" type="text/css" href="css.css"></head><body leftMargin="0" topMargin="0" marginheight="0" marginwidth="0"><table width="90%" border="0" align="center" cellPadding="1" cellSpacing="1"><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td width="20%"><span class="quatro"><b>INSCRIÇÃO:</b></span></td><td width="80%">&nbsp;00549</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>CATEGORIA:</b></span></td><td>&nbsp;JO</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>MODALIDADE:</b></span></td><td>&nbsp;JO08</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>TÍTULO:</b></span></td><td>&nbsp;Menos um sobrevivente - Reportagem especial ed 29 do Jornal Lampião: https://issuu.com/jornallampiao/docs/merged-2 (páginas 4-5)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>AUTORES:</b></span></td><td>&nbsp;Luciana Almeida Gontijo (Universidade Federal de Ouro Preto); Janaína Oliveira Vezo (Universidade Federal de Ouro Preto); Júlia Rocha de Oliveira (Universidade Federal de Ouro Preto); Phellipy Pereira Jácome (Universidade Federal de Ouro Preto); Dayane do Carmo Barretos (Universidade Federal de Ouro Preto)</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td><span class="quatro"><b>PALAVRAS-CHAVE:</b></span></td><td>&nbsp;Racismo institucional, violência, reportagem, jornal impresso, jornal-laboratório</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>RESUMO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Este paper tem como objetivo apresentar a reportagem Menos um sobrevivente, produção do Especial elaborada para o Jornal-laboratório do curso de jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto, o Jornal Lampião. O intuito foi abordar o racismo institucional na Polícia Militar, promovendo uma discussão sobre esse tema ao analisar guias de pesquisa nacionais e estaduais para compreensão dos seus efeitos na Região dos Inconfidentes, utilizando como gancho um caso ocorrido em setembro de 2017, em que um jovem negro foi assassinado a caminho do show dos Racionais MC's em Ouro Preto.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>INTRODUÇÃO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">O presente paper trata da reportagem especial "Menos um sobrevivente" da 29ª edição do Jornal Laboratório Lampião, disciplina do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), elaborada em outubro e novembro e publicada em dezembro de 2017. Optamos por trazer à tona uma discussão sobre racismo institucional na Polícia Militar (PM) tentando impulsionar uma mudança social. Quisemos contextualizar o leitor com casos popularmente conhecidos e usamos dados e pesquisas feitas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guia de Enfrentamento do Racismo Institucional e Mapas da Violência que analisam mortes por arma de fogo decorrentes de ações policiais, classificadas por local, ano, gênero e faixa etária. O tema foi escolhido em razão de uma abordagem policial, ocorrida em setembro de 2017, que resultou na morte de Igor Mendes, 20, no centro histórico de Ouro Preto. A polícia interceptou o carro em que o jovem se encontrava com os amigos para ir ao show dos Racionais MC's. Ao receber comando para descer do veículo, Igor foi baleado na cabeça por um tiro de fuzil. O caso nos impulsionou a questionar sobre racismo institucional, tendo em vista que o risco de assassinato a jovens negros é três vezes maior que para brancos. Durante a apuração, averiguamos desde como é feita a abordagem policial até o próprio treinamento, levando em consideração diversos posicionamentos, dentre eles os de entidades jurídicas e de pessoas que já sofreram com esse tipo de racismo. Os dados oficializados dos crimes de racismo institucional são defasados devido a normatização de homicídios negros pela sociedade. Inclusive devido medo diante os próprios policiais, um forte motivo para que as denúncias não sejam feitas. A falta de reconhecimento dessa realidade dificulta a possibilidade de diálogo, restringindo o conhecimento e o discernimento de crimes com fardo racial.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>OBJETIVO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">A finalidade dessa reportagem foi dar visibilidade e enfatizar a importância social de abordar essa questão, que é pouco discutida e sofre com a falta de registros oficiais. Segundo relatório da ONU, as condutas são naturalizadas nas estruturas e nos procedimentos das organizações, as práticas discriminatórias que caracterizam o racismo institucional impedem que as políticas universais nas instituições públicas sejam de fato igualitárias, atendendo, de forma diferenciada, grupos historicamente discriminados na nossa sociedade. Daí, a importância de o cidadão e a cidadã que se sentirem lesados fazerem valer seus direitos, registrando ocorrências e acompanhando de perto o andamento dos processos dos quais façam parte. (ONU, 2012, p.10) Quisemos dimensionar as consequências dessa desigualdade no leitor, buscando promover uma visão crítica através da diversidade de opiniões, especialmente em um tema que precisa de visibilidade e conscientização. Como o público alvo do jornal é residente da Região dos Inconfidentes, buscamos reforçar a importância com outros casos de violência policial, com pesquisas históricas, depoimentos pessoais e de especialistas em Direitos Humanos, raciais, policiais e jurídicos. Nos preocupamos em desenvolver um produto humanista que estimula a formação do olhar crítico, diferente da mídia tradicional local que se embasa majoritariamente nos boletins policiais. O design da página e a estruturação do texto foram elaborados para criar um produto mais dinâmico e sensível, com integração verbo-visual de diferentes elementos gráficos para construção de uma narrativa consolidada a partir das potencialidades de cada linguagem interconectada. Os quadrinhos e infográficos tornaram o tema mais leve, interligando o tempo da escravidão até um episódio complexo, que é normatizado culturalmente. Usamos desse momento de experimentação para explorar formatos diferentes do jornalismo e proporcionar uma experiência social com uma narrativa fiel, sincera e crítica.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>JUSTIFICATIVA</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">No trabalho elaborado, buscamos por respostas a questões comportamentais que resultam no racismo institucional, valorizando a importância das condutas éticas e humanas na sociedade e apontamos algumas falhas no sistema atual (sobrecarga de trabalho, autoritarismo, pressão psicológica, estresse, descrença de uma justiça eficiente) que podem ser fatores condutores do agravamento da situação. Devido a complexidade do tema, achamos importante trazer uma diversidade de posicionamentos para o texto. A pluralidade de vozes e distintos pontos de vista que contornam essa realidade apontam para problemas e possíveis soluções que podem ser tomadas, dentre caminhos que estão sendo traçados com políticas públicas voltadas para dissolver um problema histórico-social urgente.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>MÉTODOS E TÉCNICAS UTILIZADOS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Em pesquisas feitas sobre a cobertura midiática da Região dos Inconfidentes em âmbito regional e nacional, foi observado que o assassinato de Igor Mendes não teve muita visibilidade e sua cobertura foi meramente expositiva, desconsiderando aspectos que envolviam uma situação muito mais delicada do que desenhavam os veículos consultados. A reunião de pauta da edição 29 do Jornal Lampião ocorreu aproximadamente após um mês da morte de Igor, quando o inquérito havia sido recém finalizado e manifestações e homenagens ao jovem estavam sendo feitas por Ouro Preto. Considerando os interesses do público leitor do jornal e a importância de uma discussão mais aprofundada no caráter social e jornalístico sobre o assunto, pensamos em desenvolver uma reportagem correlacionando a violência policial com o racismo institucional em uma abordagem do micro para o macro, usando o assassinato de Igor como ponto de partida, uma vez que esse não foi um caso isolado. O levantamento de dados foi o primeiro passo da apuração e teve um papel importante considerando que o posicionamento da reportagem os tiveram como base. Segundo o Atlas da Violência de 2016 (IPEA, 2016), o Brasil tem o maior número absoluto de homicídios do mundo. Foram 59.627 mil assassinatos em 2014 e o perfil desses indivíduos era negro, jovem e de baixa escolaridade. Em um comparativo mundial, o Brasil aparece entre os 10 países com o maior índice de homicídios da juventude. Quando se associa as mortes com a raça das vítimas, o Índice de Homicídios de Adolescentes (IHA, 2014), diz que adolescentes negros do sexo masculino têm chances 3 vezes maiores de serem vítimas de homicídios que os brancos. O 11° Anuário de Segurança Pública (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2017) aponta que 7.554 pessoas perderam suas vidas em intervenções policiais, dentro e fora de serviço, entre 2015 e 2016, sendo eles 99.3% homens, 81.8% entre 12 e 29 anos e 76.2% são negros. "Há que se considerar, ainda o fato de que a Polícia geralmente tem um comportamento específico no que tange ao relacionamento com a comunidade negra, em particular aquela pobre e de periferias urbanas" (FLORES, 2014, p.16). Tendo isso em vista, entrevistamos jovens do Cabanas, bairro periférico de Mariana, que descreveram suas experiências de agressões físicas, verbais e de intimidação policial. Valorizamos na reportagem a força da narrativa das vítimas e a importância desse tema na vida delas, evidenciando também como relataram sobre essa agressividade com naturalidade e baixas perspectivas de mudança. Além disso, o depoimento de Nayara Mendes, irmã do jovem assassinado, juntamente ao da diretora de igualdade racial, da promotora de justiça e de uma especialista em Direitos Humanos aproximou a teoria que analisamos com a realidade que quisermos entender e estudar.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr> <td colspan="2"><span class="quatro"><b>DESCRIÇÃO DO PRODUTO OU PROCESSO</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2" align="justify">Essa reportagem foi o Especial (páginas 4 e 5) da edição 29 do Jornal Lampião, disciplina do 5° período de Jornalismo na UFOP. O jornal foi produzido no formato standard e contém oito páginas, quatro coloridas e quatro em preto e branco (o Especial ocupou duas páginas coloridas). A disciplina tem acompanhamento processual, feito por etapas de elaboração e apuração. Desde a seleção da pauta, tivemos a preocupação de evitar o sensacionalismo e enfatizar a vulnerabilidade social, visto que racismo institucional na PM é um tema denso e necessita de cautela para ser tratado. Nos preocupamos muito com formas sutis e concretas para construir a narrativa e apresentá-la em um panorama mais amplo e embasado. Assim, exploramos o campo das histórias em quadrinhos (HQ) e de infográficos para ilustrar a reportagem e informar visualmente. As cores escolhidas também foram pensadas para melhor desenvolver a capacidade informativa da página. O vermelho é uma cor intensa e, em seus tons mais escuros, está associado à guerra, ao perigo e ao poder. Ele está nos destaques pois tem alta visibilidade e traz o texto e as imagens para o primeiro plano, com intuito de chamar atenção para o título, que encabeça a HQ, e os infográficos, com o objetivo que o leitor tenha conhecimentos desses elementos primeiro e que relacionem o significado da cor a eles. Já a escala de cinza e o preto e branco foram escolhidos para os quadrinhos pois criam uma atmosfera argumentativa para a narração e transmitem uma sensação de perspectiva e profundidade. A intenção da reportagem ao abordar o gênero do discurso nas histórias em quadrinhos, compreende dois principais objetivos: primeiramente, busca tensionar o conceito da linguagem em quadrinhos, não apenas no universo imagético do entretenimento, mas também enquanto objeto político, social e histórico; já o segundo, pretende correlacionar o processo investigativo da reportagem sobre o genocídio negro com o assassinato de Igor Mendes. Nesse sentido, a sequencialidade típica dos quadrinhos ajuda a conformar esse panorama histórico. Desta forma, a proposta da HQ partiu de uma macroestrutura e utilizou como narrativa uma música-denúncia para chegar até o assassinato de Igor. O jovem estava à caminho do show do grupo Racionais MC's quando foi executado por policiais, em setembro de 2017. Os integrantes do grupo de rap são conhecidos por composições sobre a violência policial e as perspectivas do jovem periférico, como era o caso de Igor, rapaz negro da periferia de Ouro Preto. O título da reportagem "Menos um sobrevivente", foi inspirado na música dos Racionais denominada Capítulo 4, Versículo 3, onde as questões do crime e da negritude constroem uma perspectiva político-moral em torno das opressões e injustiças sociais causadas aos grupos marginalizados. Já a narração da HQ em si, utiliza o trecho de outra canção do grupo, intitulada Nego Drama, onde os versos ilustram as correlações existentes entre passado, presente e futuro da população negra - o drama da "cadeia" e da "favela", "túmulo, sangue, sirene, choros e velas" - traduzido em signos concretos. Os quadrinhos foram pensados na sequência da música. A contextualização histórica no início da narrativa representa o período colonial, com escravos e senhores na Câmara Municipal de Mariana. Em seguida, retratamos o racismo nos massacres nas periferias, abordando também os casos nacionalmente conhecidos, das "Mães de Maio" e "Rafael Braga" para mostrar a injustiça normatizada em uma conjuntura de fatores enraizados na sociedade. Em outro trecho presente na narrativa há um questionamento: "Você deve estar pensando o que tem a ver com isso?" A frase é endereçada a quem lê, mas certamente não aos negros, não àqueles que vivem o negro drama. O verso parece expor a consciência de que o narrador não fala apenas para os seus iguais, mas para a sociedade e seus algozes, trazendo Igor para o centro dessa indagação. Afinal, o que causou o assassinato de Igor Arcanjo Mendes? E o que nós, enquanto sociedade, temos a ver com isso? A reportagem, através de uma abordagem musical-quadrinhos, busca potencializar vozes silenciadas pela sociedade e denunciar o assassinato e a perseguição racista de negros por forças policiais. Assim como a HQ, os infográficos (índices de mortes decorrentes de intervenção policial nacionais e estaduais e perfil das vítimas) são complementares aos dados do texto. As informações coletados, além de fazerem um levantamento numérico, evidenciam a padronização das vítimas e denunciam por meio de dados.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>CONSIDERAÇÕES</b></span></td></tr><tr width="90%"> <td colspan="2" align="justify">A partir desse trabalho pudemos identificar falhas no sistema policial, especialmente na Região dos Inconfidentes, como a sobrecarga de trabalho devido a uma equipe de investigação defasada na Polícia Civil em Ouro Preto. Com isso, trouxemos fatores que podem promover o início da mudança local, como é proposto pelo próprio jornal-laboratório ao ser voltado para a comunidade, não só para a academia. Nos ancoramos nos pilares do jornal-laboratório, na experimentação de linguagens e preocupação com o deslocamento do saber expandir o nosso conhecimento e dos leitores ao trazer diversos campos jornalísticos e visuais para consolidar nossa base argumentativa.</td></tr><tr><td colspan="2">&nbsp;</td></tr><tr><td colspan="2"><span class="quatro"><b>REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁICAS</b></span></td></tr><tr width="90%"><td colspan="2">JACOBO WAISELFISZ, Julio. Mapa da Violência 2015: mortes matadas por arma de fogo. Brasília: Flacso Brasil, 2015.<br><br>JACOBO WAISELFISZ, Julio. Mapa da Violência 2016: homicídios por arma de fogo. Brasília: Flacso Brasil, 2016.<br><br>Geledés - Instituto da Mulher Negra. Guia de Enfrentamento do Racismo Institucional. Trama Digital, 2014. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2014/04/Guia_de_enfrentamento_ao_racismo_institucional.pdf<br><br>FBSP. 11° Anuário de Segurança Pública. FBSP, São Paulo, 2017. Disponível em: www.forumseguranca.org.br/wp-content/uploads/2017/12/ANUARIO_11_2017.pdf<br><br>FLORES, Tarcila. Violência Letal Contra Adolescentes: genocídio do povo negro e homicídios do Brasil. Belo Horizonte, 2014.<br><br>World Health Organization. Global Health Estimates 2015: Deaths by Cause, Age, Sex, by Country and by Region, 2000-2015. Geneva, World Health Organization; 2016. Disponível em: http://www.who.int/maternal_child_adolescent/topics/adolescence/framework-accelerated-action/en/<br><br>Organização das Nações Unidas. Guia de orientação das Nações Unidas do Brasil para denúncias de discriminação étnico-racial, 2011. Brasília, ONU. http://www.onu.org.br/img/2012/03/guia-onubrasil-para-denuncias-de-discriminacao-etnico-racial.pdf<br><br>IPEA. Atlas da Violência no Brasil. IPEA e FBSP, 2014. Disponível em: http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/160322_nt_17_atlas_da_violencia_2016_finalizado.pdf<br><br> </td></tr></table></body></html>