INTERCOM: 45 ANOS DE HISTÓRIA E DESAFIOS PARA O FUTURO, NA VISÃO DE EX-PRESIDENTES

7 de dezembro de 2022

Na próxima segunda-feira, 12 de dezembro, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) completa 45 anos e, para dar início às celebrações, quatro ex-presidentes da entidade participaram de uma live especial, realizada na última quinta-feira (01/12) como pré-evento da IX Conferência do Pensamento Comunicacional Brasileiro (Pensacom Brasil 2022), que começa hoje em São Paulo. Na conversa, mediada por Nair Prata (Ufop), diretora Científica da Intercom, memórias e reflexões foram trazidas por Anamaria Fadul, segunda presidente, entre 1983 e 1985; Maria Immacolata Vassallo de Lopes (ECA-USP), cuja gestão foi de 1995 a 19997; José Salvador Faro (PUC-SP), que estava presente na fundação da entidade e a presidiu entre 1997 e 1999; e Sonia Virgínia Moreira (Uerj), presidente entre 2002 e 2005.

Para assistir à gravação da live “45 anos da Intercom na visão dos ex-presidentes”, clique aqui.

“Esta live foi organizada com muito carinho, muito cuidado, porque marca o início das comemorações dos 45 anos da Intercom. A gente ficou pensando o que podia fazer para marcar essa data. Nada melhor do que conversar com os ex-presidentes, porque cada um tem uma história, cada um teve um momento nesses 45 anos – uma participação, uma contribuição. E continuam a dar contribuições fazendo parte do Conselho [Curador]. Cada um de vocês ajudou a colocar um tijolo importante na história da Intercom”, afirmou Sônia Jaconi (IEA-USP), diretora de Projetos e coordenadora do Pensacom Brasil 2022. “O Pensacom é um presente que o professor Marques deu para nós. Ele está sendo consolidado a cada edição com a parceria do Sesc, que a gente agradece demais”, afirmou.

“A Intercom é hoje uma entidade, como poucas no mundo, que realiza sete eventos anuais: temos os cinco congressos regionais no primeiro semestre de cada ano, temos o congresso nacional, que é em setembro, e encerramos o ano com o Pensacom, em dezembro. É um trabalho de uma equipe muito grande, que se dedica arduamente para que a gente possa realizar isso tudo em prol da pesquisa em Comunicação”, assinalou a professora Nair.

A live contou, ainda, com a presença de Silvia Briseno, viúva de José Marques de Melo, principal fundador da Intercom e que conduziu sua consolidação: “Para mim, a Intercom foi uma filha mais velha”, afirmou Silvia.

ORGANIZAÇÃO E INTERDISCIPLINARIDADE: PRINCÍPIOS FUNDADORES DA INTERCOM

José Salvador Faro iniciou a conversa lembrando que, em 1977, a sociedade civil brasileira ampliava seus movimentos de resistência contra a ditadura militar. “A Intercom faz parte desse movimento múltiplo, plural de reorganização da sociedade, só que do ponto de vista acadêmico”, afirmou, indicando que as duas contribuições iniciais da entidade foram a unificação e organização dos pesquisadores do campo e o aprofundamento de seu diálogo com outras áreas das Ciências Sociais. “A visão do Zé Marques, que foi o grande idealizador da Intercom, tratava-se de dotar a Intercom de um perfil orgânico – quer dizer, ela organizaria os pesquisadores – e, ao mesmo tempo, de dotar os estudos de Comunicação de uma perspectiva que ela nunca abandonou, que é o da interdisciplinaridade.”

Para Faro, “em nenhum momento a entidade perdeu de vista essa dupla dimensão”. “É um objetivo de natureza horizontal – organização – e um objetivo de natureza vertical – aprofundamento do conhecimento científico sobre os processos de comunicação”, explicou, acrescentando que essa dupla perspectiva influenciou gerações de pesquisadores(as) no Brasil. “O congresso da Intercom passou a ser uma espécie de momento de ouro – aqui, não corro o risco de exagerar – para toda a comunidade científica. Desde o primeiro, que se realizou em Santos, [os congressos] eram meetings de pesquisadores comprometidos com essas duas marcas que a Intercom teve desde seu surgimento”, completou.

CRESCIMENTO E AMADURECIMENTO, SEM PERDER A PERSPECTIVA ORIGINAL

Segundo o professor Faro, a Intercom ampliou sua capilaridade nacional e internacionalmente, inclusive com as importantes contribuições de Maria Immacolata Vassallo de Lopes – que “tinha uma visão muito pouco provinciana das relações internacionais que a Intercom tinha que ter” quando o ocupou a Diretoria de Relações Internacionais – e de Sonia Virgínia Moreira – que “mergulha a Intercom num processo de aproximação com as várias áreas do conhecimento e com outras entidades”. “Criávamos entre nós um espírito mais orgânico, de menor apadrinhamento, em que as relações de amizade não eram suficientes para dar conta do fortalecimento da entidade. E, nesse lugar, entrava a seriedade acadêmica, a seriedade de organização da entidade, a seriedade das relações institucionais que estabelecíamos e a responsabilidade que era ter se tornado uma entidade nacional”, avaliou. “Mesmo agora, com a ausência do Zé Marques, acho que a Intercom dá uma prova de que ela se sustenta a partir dos princípios que foram construídos ao longo desse período todo. [...] É uma história muito bonita. Não vejo na história da Intercom nenhum desvio que a tenha colocado fora daquela perspectiva da fundação. Ela foi se modernizando, se tornando uma entidade mais sólida.”

MARCOS IMPORTANTES

A professora Maria Immacolata ressaltou três pontos fundamentais no amadurecimento da Intercom: a criação dos Grupos de Trabalho (atuais Grupos de Pesquisa), em 1990, durante seu mandato como diretora Científica; a internacionalização da entidade, com a realização de colóquios binacionais e a aproximação com a Associação Latino-americana de Investigadores da Comunicação (Alaic); e o aumento da complexidade na estrutura dos congressos.

Construídos coletivamente e organizados institucionalmente, com regimento próprio e acesso democrático via chamada de trabalhos, os Grupos de Trabalho abrangiam, desde o início, tanto áreas mais próprias do campo da Comunicação – como Jornalismo, Relações Públicas e Publicidade e Propaganda – como áreas interdisciplinares. Na visão da ex-presidente, essa “tematização” dos GPs “redundou também no mapeamento de áreas do campo da Comunicação”, gerando uma cartografia sempre atualizada da pesquisa realizada no Brasil.

Ao tratar da internacionalização e dos congressos nacionais, Maria Immacolata trouxe à live algumas reminiscências de sua gestão, especificamente dos eventos de 1996, organizado pela Universidade Estadual de Londrina, e de 1997, realizado colaborativamente com três instituições de Santos, cidade do litoral paulista que também recebera o primeiro evento da Intercom. Quanto ao de Londrina, destacou o encontro binacional Brasil-Dinamarca, coordenado por Stig Hjarvard, importante referência em estudos da midiatização. Mas foi o de 1996 que mais marcou, pois teve forte presença latino-americana, por ter recebido o congresso anual da Alaic, e italiana, por ter incorporado o colóquio Brasil-Itália. “Todos estavam lá”, comentou Maria Immacolata, ressaltando que as conferências principais daquele ano foram com José Marques de Melo, Armand Mattelart e Jesús Martín-Barbero. Ovacionado, Armand Mattelart “ficou emocionado e chegou a chorar”, recordou ela.

[Uma dica da professora Maria Immacolata: a conferência de Martín-Barbero foi publicada no v.20, n.2 (2021) da revista MATRIZes. Clique aqui para ler o artigo “O que a pesquisa latino-americana de comunicação deve ao Brasil: relato pessoal de uma experiência intercultural”.]

A professora Sonia Virgínia, que hoje coordena o Colóquio Brasil-Estados Unidos, também apontou os eventos binacionais como uma ação importante da Intercom e a oportunidade que a entidade proporciona a pesquisadores(as): “Eu sou cria da Intercom: meu primeiro congresso foi em Viçosa, em 1988. Eu tinha entrado havia pouco na Uerj, e lá fomos eu, Ricardo Freitas e Roberto Vieira, que era diretor da faculdade... pegamos carona no Chevette do Roberto e fomos para Viçosa. A viagem já foi uma delícia, e eu me encantei ali, naquele momento, com a possibilidade de diálogo que se estabelecia entre as pessoas”, lembrou.

Como marcos de sua gestão, Sonia Virgínia destacou a criação do Intercom Júnior, evento de apresentação de trabalhos voltado a estudantes de graduação, e o início da digitalização na entidade. “Tive a imensa sorte e alegria de ter junto comigo o Aníbal Bragança, que era o diretor Científico”, afirmou, puxando na memória as viagens mensais que faziam entre Rio de Janeiro e São Paulo, onde é a sede da Intercom. “Muita coisa nasceu na ponte aérea. Uma dessas coisas foi o Intercom Júnior, porque a gente começou a perceber que existia uma vontade muito grande dos alunos de graduação de participarem do congresso”, contou. “Quem dá esse tipo de oportunidade para os jovens pesquisadores é uma associação científica como a Intercom – sem estrelas, nós estávamos ali interessados mesmo em falar de pesquisa.”

Em relação à digitalização, ela também ressaltou o trabalho do professor Aníbal Bragança como diretor Científico. “Tínhamos muita dificuldade de produzir, porque tinha que publicar, eram impressos. Hoje, temos essa facilidade da produção do e-book. O primeiro passinho também foi lá atrás, com o Aníbal trabalhando para informatizar”, disse. “Foi uma tarefa de Hércules. Acho que só uma pessoa como o Aníbal. Além da grande figura humana, do pensador, do pesquisador que Aníbal foi, ele tinha um jeito de lidar com as pessoas e uma paciência que permitiu informatizar o congresso.”

Retomando os temas dos três congressos realizados em sua gestão – "Mídia, ética e sociedade", em 2002 em Belo Horizonte; "Comunicação, acontecimento e memória", em 2003 em Porto Alegre (com conferência de abertura “inesquecível” feita por Andreas Huyssen; e "Ensino e pesquisa em Comunicação", em 2005 no Rio de Janeiro –, Sonia Virgínia salientou a importância dos temas anuais para a compreender a história da Intercom.

Por fim, a professora Maria Immacolata apontou que a criação dos prêmios estudantis da Intercom e dos seminários regionais – mais tarde transformados nos atuais congressos regionais – foi um movimento de “desbravamento”, no sentido tanto de dar oportunidades a estudantes de graduação e pós-graduação como de descentralizar os encontros promovidos pela entidade.

FUTURO DA INTERCOM

Na visão da professora Maria Immacolata, a Intercom tem se consolidado e se atualizado, e exemplos disso são a recente reestruturação dos GPs; a aproximação institucional com associações de científicas e acadêmicas, como a Sociedade Brasileira de Progresso da Ciência (SBPC), a Alaic e a Associação Internacional de Estudos em Comunicação Social (IAMCR), e com movimentos da sociedade; e o sucesso no retorno do congresso nacional ao formato presencial em 2022. “Ela [a Intercom] renasce, ela se refunda, ela se refaz”, afirmou. Na conclusão de sua participação na live, a ex-presidente chamou a atenção para a importância de olhar para o passado e tomá-lo como referência no enfrentamento dos desafios atuais e futuros, por sua vez relacionados com as dinâmicas mudanças na sociedade da era digital: “Continuar reunindo pesquisadores, [pensando] novos temas, novas metodologias… e também sua atuação, mais do que nunca importante, em políticas de cultura e de comunicação, que o país vai ter que repensar e vai precisar muito das cabeças pensantes – e a Intercom tem essas cabeças pensantes”.

Olhando para o futuro, a professora Sonia Virgínia sinalizou que “o maior desafio é a Intercom se manter plural e acessível, porque é assim que a gente vai conseguindo formar novas gerações de pesquisadores”, avaliou. “Neste mundo tão cheio de informação, acho que esse é um desafio que a Intercom tem pela frente. Como você se mantém relevante, como se mantém plural e se mantém abrangente nesse contexto em que a gente vive hoje como sociedade científica?”

Para Anamaria Fadul, o grande desafio da comunidade científica da Comunicação é organizar suas áreas de pesquisa. “Eu acho que a gente precisa refletir bastante sobre a área da Comunicação, às vezes um pouco fragmentada demais”, afirmou.

“Os desafios são colocados a cada dia. Os próximos 45 anos começam amanhã. Mas sou muito otimista com relação à vida da Intercom”, concluiu Maria Immacolata. “Salve a Intercom, longa vida à Intercom.”

PENSACOM BRASIL 2022

Com o tema central "Independência, Comunicação e Cultura: olhares contemporâneos", o Pensacom Brasil 2022 é realizado hoje e amanhã (07 e 08/12) no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc-SP, em São Paulo. Promovido pela Intercom e pelo Sesc-SP, o evento tem o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), da Cátedra em Comunicação e Informação Intercom – José Marques de Melo e da Rede Latino-Americana de Cátedras e Observatórios de Comunicação e Informação para a Cidadania e para a Cultura.

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